quarta-feira, setembro 14, 2011

Aprendiz de mim: a questão da humanidade


Aprender de mim requer um aprendizado precípuo, que eu aprenda sobre a minha humanidade. Antes de qualquer coisa me saber pertencente à raça humana me ajuda a compreender, ainda que muitas vezes sem entender, um pouco do que sou.

É algo tão claro, até mesmo aparentemente redundante, afinal de contas: há aprendizado em se reconhecer humano?

Creio que nos tempos que ora vivemos é necessário e muito parar e concentrar-se em tal aprendizado. Por vezes já me peguei esquecendo-me de minha humanidade e percebo que não sou a única.

Por mais absurdo que possa parecer é preciso lembrar de ser o que de fato se é: HUMANO.

A pós-modernidade de uma rotina por vezes escravizante e massacrante que nos exige sempre mais e de forma mais rápida e mais perfeita parece querer triturar em nós a essência da centelha humana.

Nosso trabalho nos exige performances impecáveis, metas por vezes inalcançáveis, é preciso fazer, fazer e fazer SEMPRE, MUITO e MAIS! E talvez, cheguemos no ponto em que TUDO ainda não será o bastante.

Nossos relacionamentos muitas vezes não nos permitem ser de fato quem somos, há um padrão esperado, uma rígida conduta a ser seguida e porque também não dizermos uma performance a ser mantida?

Até mesmo nos ambientes religiosos e muitas vezes respaldados por uma interpretação peculiar das divinas escrituras, é preciso manter uma imagem, uma posição, subir em um pedestal e não se misturar a massa não evoluída espiritualmente.

Confesso que tenho vontade de gritar para que eu e o mundo ao meu redor possam ouvir: Seja humano, seja gente!

Não seja alguém movido por instintos, não seja alguém simplesmente movido por performances por vezes caricatas de algo que na verdade não diz respeito a você. Seja simplesmente você. Humano, único, singular, incomparável, inimitável em seu âmago.

Aprenda de si, aprenda de suas imperfeições, aprenda de suas falhas, aprenda de seus acertos, aprenda de suas qualidades, enfim, aprenda com sua humanidade.

E há tempos tenho visto se repetir o padrão do não humano, da caricatura do humano. Vivemos a era dos superlativos, super mulheres e super homens saltaram da iconoclastia para a vida real. Queremos ser super informados, super independentes, super inteligentes, super lindos, super perfeitos e nessa busca super performática para que sejamos super admirados e super aceitos superlativizamos a imagem, diminutizamos a essência.

Durante muito tempo achei que era esse o padrão, que essa era a moeda que valia na vida. Ser um super alguém, super reconhecido, super aplaudido.

O mundo corporativo me disse isso, a sociedade reafirmou-me o mesmo e até minha família e instituição religiosa concordaram.

Mas o fato é que o Mestre sempre me diz coisas diferentes da maioria: Ele que é SUPER e mesmo com todas as prerrogativas que cabem a um “super” escolheu esvaziar-se a si mesmo, escolheu a forma de servo e espante-se: escolheu a forma humana e foi além, pois achado em sua total humanidade humilhou-se até a morte na cruz (Fp 2:7-8)

Lembro-me de uma frase que acredito ser de Thomas Merton que diz que "a maioria de nós anseia por ser tão divinos, enquanto Deus manifestou-se tão humano”

Queremos os superlativos, queremos o perfeito e passamos por cima de nós mesmos, não digerimos nossa humanidade em sua totalidade e assim perecemos como desconhecidos de nós mesmos. Do que há de bom e ruim em nós.

Sim, saber-se humano é espantar-se, é espantoso. Por vezes acho que o que mais combina com o auto-conhecimento seria, paradoxalmente, o fenômeno do auto-estranhamento.

Tirar as máscaras diante dos outros é quase impossível, tirar as máscaras diante de nós mesmos é doloroso e por vezes constrangedor.

Mas acredito que é um aprendizado vital, ainda que por vezes aterrador...

Prosseguindo em aprender,

Roberta Lima

2 comentários:

  1. Belíssimo texto, Roberta. Tomei a liberdade de replicar parte de um parágrafo no Facebook, obviamente indicando a fonte.
    Parabéns pelo blog. Passei a indicá-lo no meu blog. :)

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