terça-feira, outubro 25, 2011

Aprendiz de mim: a questão das tragédias pessoais #7



Há pouco tempo conheci uma moça e poucos dias após conversar com a mesma, reencontro-a com o pé fraturado por conta de um acidente doméstico. A mesma deveria ficar mais de um mês sem poder pisar no chão, usando muletas e sofrendo todo o aparato desconfortável que a situação consigo traz. Compartilhei com ela um pouco da minha história, um tombo de moto que me esfolou em alguns lugares e deixou uma singelo “buraco” na parte superior do pé direito, além de uma torção que me fez percorrer inúmeros médicos que não sabiam diagnosticar se havia rompimento ou não de ligamentos. Eu  apenas sei que doía, que eu não podia pisar no chão e que a ferida aberta parecia não querer cicatrizar nunca.

Após alguns dias, reencontramos o marido da moça e ele falou o quanto o gesso a incomodava e foi então que mencionei que tinha uma bota ortopédica mas que não sabia onde a mesma andava, pois minha mãe havia emprestado para alguém que dela precisava. Algumas ligações e algumas horas depois a bota é entregue no escritório onde trabalho. A moça veio agradecida contar-me que ela e mais duas pessoas haviam usado, fiz a contagem “uso + empréstimo” e percebi que seria a 6ª pessoa que usaria a bota-símbolo de minha imobilidade, dor e cicatriz que carrego em cima do pé até hoje.


Emprestei a bota pela 6ª vez e fiquei a divagar em como é esta vida: até de circunstâncias de aparente desgraça podemos extrair coisas boas. Acredito que Deus é o único com habilidade em transformar tragédias pessoais em força e vida para o próximo.
Lembrei-me que muitas vezes meus momentos de maior inspiração vieram dos momentos de maior fraqueza, maior dor. Paradoxal mas inegavelmente real.

Assim a vida se constrói. Por inúmeras vezes questiono tal processo. Sofro. Mas por vezes me pego consolada sabendo que “tudo quanto nos acontece está operando para o nosso próprio bem, se amarmos a Deus e estivermos nos ajustando aos planos Dele". Romanos 8:28 [versão Bíblia Viva]

Posso ter a certeza de que “cada detalhe em nossa vida de amor a Deus é transformado em algo muito bom”Romanos 8:28 [A Mensagem]





E com isto não afirmo que Deus planeja estratagemas de aniquilamento para seus filhos, o fato é que Ele é o único com a capacidade de colocar em nós a força e placidez necessárias para que extraiamos o bom daquilo que por vezes não é apenas aparentemente ruim, é ruim e ponto. Em muitos momentos me pego absurdada com a vida e suas tragédias que são bem maiores do que pés torcidos e coisas que talvez (espero eu) jamais saberei o que são. Mas o fato é que tragédias pessoais podem produzir mentes brilhantes como a de Victor Frankl que em campos de concentração nazistas superou adversidades atrozes e nos deu de lambuja um método terapêutico conhecido em todo o mundo chamado logoterapia. Enfim, se pararmos poucos minutos para reflexão, lembraremos de várias pessoas que fizeram da desgraça o salto para uma nova realidade. Fizeram da fraqueza a sua força. Fizeram do impossível algo plausível porque simplesmente ousaram tentar, ousaram acreditar que onde estavam não era o final. Prorrogaram o “jogo” e conseguiram golear o adversário. Mas paro por aqui, antes que isto vire um discurso de auto-ajuda, pois como digo e repito, prefiro a ajuda do alto, seja o alto e sublime céu onde habita o Pai das luzes, ou alto e sublime cérebro que Ele nos concedeu e que nos ajuda a pensar e criar soluções.
Gosto muito da frase de Dallas Willard que afirma mais ou menos assim: “a vontade de Deus se manifesta em pensamentos que são nossos mas que não tiveram origem em nós mesmos”.

E a vontade Dele indubitavelmente é que aprendamos em todo o tempo, a vida quer nos lecionar, estaríamos nós dispostos a aprender e replicar as lições aprendidas?
Termino por fim com um pensamento que sempre me conforta quando destas ocasiões “trágicas”, é de Rainer Maria Rilke, em Letter to a Young Poet [Cartas a um jovem poeta] que assim diz: “Não acredite que quem procura confortá-lo vive serenamente entre as palavras simples e tranquilas que às vezes fazem bem a você. A vida dele tem muita dificuldade e tristeza, e permanece bem atrás da que você leva. Não fosse assim, ele jamais teria conseguido encontrar essas palavras”.

Aprendendo em meio às tragédias,

Roberta Lima

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