Estou cada vez mais convencida de que viver é algo bem
parecido com andar numa montanha russa. Há parte do trajeto que é calma, o
carrinho parece subir com maestria pelos trilhos, a vista é linda, a ansiedade
é boa e tudo está no lugar. Até que vem a primeira descida e você não sabe como
é que foi parar ali. E têm algumas curvas, você gira feito parafuso, não sabe
mais o que é direita ou esquerda e por um milésimo de segundo você pensa que seu
corpo será despedaçado, onde estão seu cérebro e seu estômago? Está tudo fora
do lugar. Já no final, mesmo com aquela freada brusca (uma tentativa grotesca
de que seus órgãos voltem aos seus devidos lugares), vem a calmaria e o fim do
trajeto. Você sobreviveu e sim, até se divertiu!
Estava pensando sobre essas fases turbulentas que, quando
não acontecem comigo, sacodem a vida de pessoas com quem me importo e sobre o
amor, graça e cuidado de Deus, quando uma cena veio à minha mente: estou
aprendendo a andar de bicicleta, meu pai está comigo. Eu não entendo bem como é
que devo sincronizar as pedaladas, erro um pé e o pedal gira do outro lado
acertando a minha perna. E dói. Muito. Depois do grito de dor meus olhos se
enchem de lágrimas e a sensação é de que eu jamais irei aprender a andar de
bicicleta. Sinto-me fracassada e ouço meu pai, pacientemente, me acalmar dizendo
que tudo bem, que não preciso chorar e então me explica tudo outra vez. Ele diz
“Primeiro apoia um pé aqui...” (e o coloca no lugar). “Depois o outro ali...” (ajeita-o no pedal), “Agora
segure firme o guidão e então começa a pedalar devagar...”, “Isso, um lado e depois
o outro...” (uma de suas mãos apoia meu pé, outra me ajuda a segurar o guidão).
De tão tensa e ansiosa que estou para aprender, não tiro os olhos dos meus pés
e preciso do meu pai para guiar a bicicleta. Se olho para a frente, erro a
pedalada. As primeiras vezes são assim até que eu tenha conseguido pedalar sem
precisar olhar para meus pés e o pedal. Então começo a olhar para a frente, o
guidão parece ter vida própria e eu preciso de um pouco de força para equilibrá-lo.
Só ando em linha reta até que eu sincronize: pedalar e guiar a bicicleta.
depois, vieram as curvas. Meu pai ficava por perto, observando, mas não
interferia mais, continuava a me incentivar, ainda que não fosse mais preciso
usar palavras para isso. Algum tempo depois, as freadas, empinadas, andar de
mãos soltas e, finalmente, eu apostava corridas de bicicletas.
Estou trilhando a minha jornada de vida e constantemente me
sinto como aquela menininha da minha infância, aprendendo a andar de bicicleta.
E Deus, sendo o Pai que é, observa meus tombos, arranhões e fracassos e me diz:
“Hey, tudo bem, levanta e vamos começar de novo. Dói não é? Mas vai passar e
vai ficar tudo bem. Vem, vamos! Você consegue, olha só como se faz...” e lá vou
eu novamente para a aventura. Algumas vezes eu olho para o caminho e solto as
mãos, é quando a bicicleta parece andar sozinha, tudo flui harmoniosamente.
Outras vezes eu me sinto tão capacitada e confiante que cerro meus olhos, a
sensação de adrenalina é tão forte, viciante... Por vezes me dou mal, perco o
equilíbrio e me esborracho no chão. A independência tem seu preço.
Andar de bicicleta é mais seguro, prazeroso e, acredite,
cheio de aventuras, quando ouço as instruções do Paizão. Posso até soltar as
mãos ou fechar um pouco os olhos, mas continuo confiando nos ensinamentos dele.
Então vou descobrindo onde virar, quando subir, quando frear e se empino vez e
outra, é por pura molecagem permitida, fruto da criança em mim e da habilidade
que ele me ajudou a desenvolver. Gargalhamos os dois e eu continuo, com as mãos
firmes no guidão, de olho no caminho. Nós sabemos para onde vamos, sem atalhos,
pelo caminho mais longo. O que importa é que estou com ele e ele me ajuda a
chegar lá.
Se é melhor andar de bicicleta ou de montanha russa, eu
ainda não sei, mas isso já é papo para uma outra oportunidade.
Aprendendo a andar de bicicleta,
#2 Andréa Cerqueira
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