Uma cidade com um espírito
grandioso não é suficiente. Não são suficientes palácios e monumentos, museus,
catedrais e arcadas que se dirigem aos céus.
Uma cidade que negligencia o
bem-estar da alma faz com que a alma busque seu bem-estar de forma degradante e
concreta, nas sombras desses mesmos reluzentes arranha-céus. Bem-estar, um fenômeno
específico das cidades, não é apenas um problema econômico social, mas
predominantemente um problema psicológico. A alma que não for cuidada quer seja
na vida pessoal, quer seja na vida da comunidade torna-se uma criança raivosa.
Ela assalta a cidade que a despersonalizou com uma raiva despersonalizada, uma
violência contra os próprios objetos que representam a falta de alma
uniformizada; vitrines de lojas, monumentos, parques, edifícios públicos.
Aquilo que, em sua fúria, os habitantes da cidade resolveram atacar e defender
(árvores, casas antigas e bairros), nesses últimos anos; é significativo.
Os bárbaros que atacaram a
civilização já vieram, em outros tempos, de fora das muralhas. Hoje em dia,
eles brotam de nossos próprios colos, criados em nossos próprios lares. O
bárbaro é aquela parte em nós com a qual a cidade não fala, aquela alma em nós que
não encontrou um lar em seu meio. A frustração dessa alma, em face da uniformidade
e impessoalidade de grandes muros e torres (guaritas, grades, seguros e
circuitos internos de TV, portas giratórias etc.), destrói como um bárbaro
aquilo que não pode compreender estruturas que representam a conquista da
mente, o poder da vontade e a magnificência do espírito, mas que não refletem
as necessidades da alma. Por nossa saúde psíquica e bem-estar de nossas
cidades, continuemos a encontrar maneiras de abrir espaço para a alma.
* HILLMAN, James. Cidade e alma. [S.l.]: Studio Nobel, 1993, p. 42.
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