"O pobre e o necessitado buscam água, e não a encontram! Suas línguas estão ressequidas de sede. Mas eu, o Senhor, lhes responderei; eu, o Deus de Israel, não os abandonarei. Abrirei rios nas colinas estéreis, e fontes nos vales. Transformarei o deserto num lago, e o chão ressequido em mananciais. Porei no deserto o cedro, a acácia, a murta e a oliveira. Colocarei juntos no ermo o cipreste, o abeto e o pinheiro, para que o povo veja e saiba, e todos vejam e saibam, que a mão do Senhor fez isso, que o Santo de Israel o criou.
Isaías 41.17-20
Um profeta digno é sempre uma raiz em solo árido. É uma fonte de águas claras e cristalinas que sacia a sede daqueles que buscam a verdade. É um manancial que umedece as gargantas ressecadas daqueles que perambulam pelo deserto da mentira. É um oásis de Deus que faz brotar de rochas secas águas limpas. É um rio que inunda de águas vivas lagos que só fazem armazenar água parada, podre e imunda. Um profeta digno é aquele que não compactua com a mentira, ou com qualquer variante sua – sejam omissões, simulações ou dissimulações –, pois sabe que a verdade dói, mas não mata; pois sabe que a mentira agrada, mas não cura. Um profeta digno sempre denuncia a falsidade e orienta através do amor e do compromisso com a a verdade, porque sabe que profetas de verdade são, antes de tudo, profetas da verdade.
Mentir é agir contra a própria consciência; é fingir ser verdade o que se sabe não ser. Mas vai além: a mentira é mais do que a mera deturpação da verdade. É qualquer espécie de falseamento da realidade visando proporcionar benefício próprio ou de terceiro, e é geralmente utilizada – se não sempre – como mecanismo de conveniência e proteção pessoal. A mentira não depende de palavras exteriores. É a simples intenção de enganar consubstanciada em gestos, atos ou falas, ainda que venha a causar dano ou prejuízo a outra pessoa. Como diz Santo Agostinho, “com a boca do coração devemos nos abster de proferir qualquer mentira”... “não há mentira, apesar do que se diz, sem intenção, desejo ou vontade de enganar”.
A mentira é sempre um atalho entre os fatos e a verdade; é um desvio de rota entre o que de fato aconteceu e o que se disse ter acontecido. É um recurso fácil e desonesto que dispensa o mentiroso das duras e penosas consequências da verdade. Na prática, acontece assim: o mentiroso sente o sabor amargo da verdade e, enjoado, vomita qualquer tipo de falsificação da realidade. O mentiroso tem medo do preço que a verdade pode lhe cobrar, e – porque sabe que é devedor de uma dívida que só pode ser paga com sinceridade, transparência e uma dose de prejuízo pessoal – é feito eterno escravo e fiel escudeiro da mentira que criou.
“A boca que mente escraviza a alma”, dizia Agostinho. É por isso que a Bíblia ensina que a mentira é filha do demônio ou, em outros termos, tem o DNA do capeta: nos oferece vida, poder e grandeza, mas nos torna escravos da morte, destruição e humilhação. Nos oferece uma falsa paz. Enche nossos olhos com tudo que é falso e nos inspira a questionar a verdade ouvida pessoalmente da boca do próprio Deus – que é a própria Verdade em si. Como se fosse possível existir outro caminho, outra verdade ou outra forma de vida fora de Jesus. Como se fosse possível nascer uma flor no meio da sequidão da mentira.
Em solos áridos e rachados não costumam nascer flores... senão para aqueles que gostam de cultivar flores artificiais. Flores artificiais não precisam de água. Flores artificiais não precisam de alimento. Não precisam de sol, de cuidado ou nutrientes. Não alteram sua forma, nem sua aparente beleza. Estão sempre falsamente lindas e impecáveis, não importa o vento que bata. Suas cores são mortas. Suas pétalas não têm aroma. Seu brilho inexiste.
Por isso mesmo flores artificiais não conseguem nos enganar por muito tempo. Suas cores, de tão falsas, não resistem ao teste da aproximação. Sua beleza, de tão forjada, não resiste ao teste do caráter. Seu aroma, de tão inexistente, não resiste ao teste da intimidade. Seu brilho, de tão opaco, não deixa a luz da verdade transpassar. E, onde não há luz, não há reconhecimento de pecado, nem transformação, nem alimento, nem amadurecimento.
É nesse tipo terreno que flores artificiais nascem e se sustentam, porque flores artificiais não gostam de luz. São sepulcros caiados: belos e perfumados por fora, podres e fétidos por dentro. São essas as flores prediletas de profetas indignos. Porque profetas indignos são agricultores que não gostam de irrigar solos áridos e rachados com a água da verdade. Antes, regam com o lodo da mentira corações doentes e não tradados, e acabam colhendo flores artificiais.
Por isso, quem busca sinceramente a Verdade deveria escolher seus líderes com cuidado muito superior ao que utiliza para escolher seu marido ou sua esposa. Cristãos autênticos deveriam escolher os bancos da igreja que irão ocupar com preocupação muito maior do que a usada para escolher as privadas de banheiros públicos em que costumam sentar para fazer suas necessidades fisiológicas. Mas não tem sido assim...e muitos cristãos acabam se acostumando a admirar flores artificiais que continuam brotando, cada vez mais, de jardins de profetas indignos.
Paz garantida pela omissão da verdade não é paz verdadeira; é paz de cemitério. Onde há mentira, há morte. E onde há morte, não pode haver verdade ou glorificação de Deus. “Pois a sepultura não pode louvar-te, ó Deus, e a morte não pode cantar teu louvor. Aqueles que descem à cova não podem esperar pela tua fidelidade. Os vivos, somente os vivos, te louvam” (Isaías 38.18).
Deus, livra-nos dos profetas indignos. Livra-nos de sermos flores artificiais. Livra-nos desse jardim de morte. Leva-nos para o teu jardim de vida. Para que com nossas atitudes possamos viver de acordo a Verdade e te glorificar. Amém.
Por Fernando Khoury
Lido em: Atelier das Ideias
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