De acordo com Oséias, Deus está disposto a manter um relacionamento mesmo quando sua esposa torna-se uma prostituta vulgar e grosseira. Essa mesma convicção é levada adiante no Novo Testamento. A mulher adúltera é trazida diante de Jesus. Espera-se que seja o deus dos líderes religiosos, que nunca assimilou a contribuição de Oséias, a julgá-la. Ela foi infiel, e a postura divina incorporada na liderança iria apedrejá-la. O Deus dos fariseus está interessado no contrato, na justiça em primeiro lugar. Matemos a mulher pelo contrato. A pessoa é descartável.
Mas no homem Jesus vemos a face humana de Deus, uma face em harmonia com a revelação do Antigo Testamento. Ele está interessado na mulher. Seu amor vai além da justiça e prova-se mais salvífico do que reforçar claramente as regras fundamentais ainda mais uma vez.
Injusto? No nosso modo de pensar, sim. Graças a Deus! Estou maravilhosamente satisfeito com um Deus que não me trata como meus pecados mereceriam. No último dia, quando Jesus chamar-me pelo nome, "Venha, Brennan, bendito do meu Pai", não será porque Abba é justo, mas porque seu nome é misericórdia.
Seremos um dia capazes de compreender o mistério da graça, o furioso amor de Deus, o mundo de graça em que vivemos? Jesus Cristo é o escândalo de Deus. Quando o Batista é aprisionado por Herodes, ele envia uma dupla de seus seguidores para perguntar a Jesus: "Es tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar outro?" Jesus diz: "Ide e anunciai a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres está sendo pregado o evangelho. E bem-aventurado é aquele que não se escandalizar em mim" (grifo do autor).
Deveríamos ficar perplexos diante da bondade de Deus, estupefatos diante do fato de ele se dar ao trabalho de chamar-nos pelo nome, boquiabertos diante do seu amor, maravilhados de que neste preciso momento estejamos pisando em terreno santo.
Cada parábola de misericórdia dos Evangelhos é dirigida por Jesus aos seus oponentes: escribas murmuradores, fariseus reclamões, teólogos censuradores, membros do Sinédrio. São os inimigos do evangelho da graça, indignados porque Jesus afirma que Deus se importa com os pecadores, inflamados que ele coma com gente que eles desprezam. O que ele diz a eles?
Esses pecadores, essa gente que vocês desprezam, estão mais perto de Deus do que vocês. Não são as meretrizes e os ladrões que acham mais difícil se arrepender: são vocês, tão seguros da sua devoção e da sua farsa que não têm qualquer necessidade de conversão. Eles podem ter desobedecido ao chamado de Deus, podem ter sido degradados pelas suas profissões, mas demonstraram tristeza e arrependimento. Mais do que tudo isso, porém, essas são pessoas que dão valor à bondade de Deus: são um paradigma do reino diante de vocês, pois elas têm o que lhes falta — uma profunda gratidão pelo amor de Deus e um profundo assombro diante da sua misericórdia.
Peçamos a Deus a dádiva que ele deu a um inesquecível rabino, Joshua Abraham Heschel: "Querido Deus, dê-me a graça do assombro. Surpreenda-me, maravilhe-me, encha-me de assombro em cada pequena fenda do seu universo. Conceda-me o deleite de ver como Jesus Cristo age em dez mil lugares, adorável em mãos e pernas, adorável ao Pai em olhos que não os dele, nas feições dos rostos dos homens. Arrebata-me a cada dia com suas incontáveis maravilhas. Não peço conhecer a razão de todas; peço apenas compartilhar da maravilha de todas".
Brennan Manning - em O Evangelho Maltrapilho
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