sexta-feira, julho 08, 2011

Quem é o juiz?


Estou no ônibus e chega uma senhora ao meu lado, pensei: Se ela passou na roleta é porque tem menos de 65 anos assim como eu, então não tem preferência nem lugar reservado para sentar.  Porém observando mais um pouco percebo que ela tá cheia de sacolas e com uma cara de muito cansada, assim como eu? Nem tanto, mas também estava cansada. Pensando mais um pouco chego à conclusão que poderia dar lugar á ela, afinal ela precisa sentar mais do que eu naquele momento, mas a sugestão do meu juiz interno foi falar para ela: Quer que eu leve suas sacolas?
Esse fato acontece sempre, levantei algumas vezes sem nem pensar com meu “senso de justiça”, mas nesse momento da minha vida onde tenho escolhido absurdamente não pensar com o coração e sim com minha tola "razão"... ela sobrou.

Temos muitos problemas quando tentamos resolver ou reagir às situações da vida com “nosso” senso de justiça.  Isso porque o senso que temos de justiça é míope, ou seja, estamos sempre no local de juiz e aí amigos, nos absolvemos sempre  e a pior sentença fica para os outros, quando temos um pouco de cara de pau pedimos para levar as sacolas mesmo sabendo que na verdade deveríamos ceder o lugar.

Quando alguma coisa acontece, algo não dá certo, aquela resposta não veio conforme achamos, brigamos com alguém, e/ou muitas outras questões que poderia citar aqui tendemos a pensar e/ou chegamos a dizer frases do tipo: Por que eu não tenho isso sendo que faço isso e isso de bom? Por que não consigo ser isso sendo que fulano é assim?  Por que comigo nunca acontece isso ou aquilo? 

Se a grande maioria das pessoas pensa e age como juiz então a pior parte sempre fica para o outro, apenas as sacolas... Só que às vezes o outro é agente. A vida é assim mesmo, um dia você está sentado no ônibus bonitinho e no outro dia você entra cheio de sacola, um dia você é o réu, no outro o juiz e nada vai garantir que alguém irá te dar lugar ou carregar suas sacolas a não ser que você dê a sorte de encontrar alguém que escolha ver a vida através de outra ótica. A do amor, da gratuidade, da doação, da gentileza, da misericórdia. Ou seja, a não ser que você não encontre com outro juiz.

Juiz reto só existe um. De resto, somos seres medíocres brincando de tribunal sem ter nenhum tipo de ‘provas concretas’, mas querendo colocar o mundo atrás das nossas  grades relacionais apenas para ter privilégios morais.

Assim é nossa caminhada, não tem fórmula, não tem garantias, não tem segredo de sucesso que irá dar aquilo que você acha que seja justo para você. Porque de verdade, o seu e o meu senso de justiça é completamente tendencioso, enquanto tivermos a nossa vida egoísta como referência para nossas sentenças vamos andar num vale cinza, cheios de palavras imundas no coração, cheios de amarguras na alma e pior esquecendo que mesmo que não tenha garantias , plantar ainda é a melhor forma de colher mas plantar principalmente pela beleza do jardim não apenas para comercializar as flores... 

Não somos os únicos ‘a sofrer’ pelo planeta. Às vezes somos tão tolos querendo que Deus nos dê respostas como se fossemos merecedores de algo além da graça. Ele nos responde ? sim, por amor, por ser pai, por ser misericordioso, mas mesmo que não fale nada ainda sim temos que  entender que a vida tem no amor toda a força que precisamos para aquietar nosso coração e nos encher de vigor para perder o lugar e ganhar um sorriso.

Quem não valoriza as sutilezas da vida e do amor nunca saberá o significado de doar , quem não aprender a perder não dará valor ao ganhar, quem não renuncia seus privilégios e quer sempre ter razão, dificilmente deixará o amor ser seu guia e seu amuleto. Quem não conhece o lugar do réu jamais poderia ser um bom juiz.

Simone C. 

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