segunda-feira, janeiro 16, 2012

Eu seria feliz se...


Estive uns dias de férias e aproveitei para levar meus sobrinhos para Sorocaba, na casa dos meus tios. Num dos dias, fomos ao parque no Paço Municipal onde há vários playgrounds, caixas de areia para a garotada brincar, além de muito verde e um lindo lago com patos e carpas, sempre festivos quando alimentados pelos pedaços de pão que crianças e adultos jogam na água. Meus sobrinhos ficaram encantados e se divertiram muito. O menor, Murilo, com dois anos, corria sem parar de um lado para outro alternando entre os vários playgrounds, até que fez amizade com um outro menino, Téo, com três anos e começaram a brincar na areia. Téo tinha um trator e uma caixa de panetone vazia, instrumentos suficientes para eles se encherem de areia rapidamente. Já minha sobrinha Cibele, com quatro anos, aventurava-se entre escorregadores, cadeiras de balanço, gira-gira e outros brinquedos para subir e explorar os movimentos. Uma festa.

Observando meus sobrinhos e o quanto crianças são capazes de se divertir com coisas simples, me veio à mente uma questão: nós, os adultos, acabamos por impor condições para a felicidade. Explico. Dois dias depois fomos para um sítio numa cidade próxima para passar a virada do ano, lá, as crianças tinham cadeiras de balanço, bolas e espaço. Não havia playgrounds, carpas, nem patos. Os animais que avistamos, dos sítios vizinhos, eram bois e alguns cavalos, galinhas e cachorros. Mas meus sobrinhos continuaram se divertindo, brincando e expressando felicidade em todo o tempo. Pensei que isso deve ser também parte do conselho bíblico que nos diz “sejam como crianças”.

Nós os adultos, temos vez e outra, problemas com o “se”. Impomos condições para sermos felizes: “Se” eu tivesse um emprego melhor, “se” eu me casasse, “se” eu morasse noutra cidade, “se” eu não tivesse nascido nessa família, “se” eu ganhasse na loteria... E assim deixamos de aproveitar o que temos ao nosso redor, e ainda, quem está ao nosso redor, nos sentimos incompletos, limitados e infelizes. Também pudera, não poderia ser diferente quando não valorizamos o que temos, quem somos e as pessoas dos nossos ciclos de relacionamentos. Já em outras ocasiões, corremos o risco de achar que a vida está até boa, mas “se” determinada coisa acontecer, aí sim, seremos realmente felizes. O pior é que, para muitos, ser feliz está baseado em ter determinados bens e conquistar determinadas vitórias. Daí lembrei-me do que o Rubem Alves escreveu: “Tanto os meus fracassos quanto as minhas vitórias duraram pouco. Não há nenhuma vitória profissional ou amorosa que garanta que a vida finalmente se arranjou e nenhuma derrota que seja uma condenação final. As vitórias se desfazem como castelos de areia atingidos pelas ondas, e as derrotas se transformam em momentos que prenunciam um começo novo.”.

Para sermos como as crianças, é preciso aceitar que até mesmo o que é simples, cotidiano, pode nos trazer enorme satisfação. Não precisamos de muito para sermos felizes, só precisamos estar disponíveis para sermos encontrados pela felicidade. Já disse o Guimarães Rosa, “felicidade se acha é em horinhas de descuido”.


#2 Andréa Cerqueira

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