Estive uns dias de férias e
aproveitei para levar meus sobrinhos para Sorocaba, na casa dos meus tios. Num
dos dias, fomos ao parque no Paço Municipal onde há vários playgrounds, caixas
de areia para a garotada brincar, além de muito verde e um lindo lago com patos
e carpas, sempre festivos quando alimentados pelos pedaços de pão que crianças
e adultos jogam na água. Meus sobrinhos ficaram encantados e se divertiram
muito. O menor, Murilo, com dois anos, corria sem parar de um lado para outro
alternando entre os vários playgrounds, até que fez amizade com um outro
menino, Téo, com três anos e começaram a brincar na areia. Téo tinha um trator
e uma caixa de panetone vazia, instrumentos suficientes para eles se encherem
de areia rapidamente. Já minha sobrinha Cibele, com quatro anos, aventurava-se
entre escorregadores, cadeiras de balanço, gira-gira e outros brinquedos para
subir e explorar os movimentos. Uma festa.
Observando meus sobrinhos e o
quanto crianças são capazes de se divertir com coisas simples, me veio à mente
uma questão: nós, os adultos, acabamos por impor condições para a felicidade.
Explico. Dois dias depois fomos para um sítio numa cidade próxima para passar a
virada do ano, lá, as crianças tinham cadeiras de balanço, bolas e espaço. Não
havia playgrounds, carpas, nem patos. Os animais que avistamos, dos sítios
vizinhos, eram bois e alguns cavalos, galinhas e cachorros. Mas meus sobrinhos
continuaram se divertindo, brincando e expressando felicidade em todo o tempo.
Pensei que isso deve ser também parte do conselho bíblico que nos diz “sejam
como crianças”.
Nós os adultos, temos vez e
outra, problemas com o “se”. Impomos condições para sermos felizes: “Se” eu
tivesse um emprego melhor, “se” eu me casasse, “se” eu morasse noutra cidade,
“se” eu não tivesse nascido nessa família, “se” eu ganhasse na loteria... E
assim deixamos de aproveitar o que temos ao nosso redor, e ainda, quem está ao
nosso redor, nos sentimos incompletos, limitados e infelizes. Também pudera,
não poderia ser diferente quando não valorizamos o que temos, quem somos e as
pessoas dos nossos ciclos de relacionamentos. Já em outras ocasiões, corremos o
risco de achar que a vida está até boa, mas “se” determinada coisa acontecer,
aí sim, seremos realmente felizes. O pior é que, para muitos, ser feliz está
baseado em ter determinados bens e conquistar determinadas vitórias. Daí
lembrei-me do que o Rubem Alves escreveu: “Tanto
os meus fracassos quanto as minhas vitórias duraram pouco. Não há nenhuma
vitória profissional ou amorosa que garanta que a vida finalmente se arranjou e
nenhuma derrota que seja uma condenação final. As vitórias se desfazem como
castelos de areia atingidos pelas ondas, e as derrotas se transformam em
momentos que prenunciam um começo novo.”.
Para sermos como as crianças, é
preciso aceitar que até mesmo o que é simples, cotidiano, pode nos trazer
enorme satisfação. Não precisamos de muito para sermos felizes, só precisamos
estar disponíveis para sermos encontrados pela felicidade. Já disse o Guimarães
Rosa, “felicidade se acha é em horinhas
de descuido”.
#2 Andréa Cerqueira
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