domingo, janeiro 15, 2012

A parábola do filho pródigo, duas faces distintas da fé


Por Thiago Azevedo


Já lemos diversas vezes a parábola do Filho pródigo e sempre focamos nossas reflexões sobre o filho que se foi e depois voltou, referindo-se a humanidade que se afastou e que recuperou sua imagem de Deus através do sacrifício de Cristo.



Mas o que quero focar é justamente que na história há o conflito de duas mentalidades, a dos religiosos e dos pecadores, basta lermos os versículos anteriores, vemos Jesus dialogando com pecadores e publicados e os escribas murmuravam entre si, pela escolha de Jesus pelos pobres.



Então esta parábola ganha uma nova conotação, a daqueles a quem Deus escolhe. Vemos que depois da chegada do filho e da festa do pai, o filho que ficou, que representa a classe religiosa, ficou com ciúme por ver um filho que esbanjou sua humanidade e ser recebido com festa, mostrando claramente que a graça de Deus não possui critérios e nem limites, enquanto que os religiosos, servos do dogma e da supervalorização da instituição querem receber graças por seus feitos, os pecadores nada esperam do pai, a não ser, serem recebidos como servos, empregados.



Isso reflete diretamente no sermão do monte, pois nos versículos iniciais, os bem-aventurados são aqueles que não se amparam na lei e na religião, mas no outro, que são pobres ou se fazem pobres. Nada esperam de Deus pelo que fazem, a não ser, mendigar a misericórdia.



Os religiosos agem de forma diferente, acham que pelo tanto falar, tanto fazer em prol da sua instituição, crê que podem receber algo de Deus, eles falam de graça, mas não vivem por ela. Esmeram-se na tal doutrina do galardão para esperar de Deus algum troféu, algum merecimento por suas façanhas.



Então o que é a parábola do Filho pródigo? Nada mais é do que um espelho da humanidade, tanto no sentido do filho que foi, quanto do que ficou. Devemos sempre observar o que pensamos ou cremos, para ver em que sentido nos assemelhamos a algum dos filhos. Porque devemos levar em conta também que anteriormente os discípulos estavam lutando por poder, quando discutiam entre si para ver que era o maior no Reino, isso era a manifestação da mutação religiosa que Jesus queria impedir no meio deles, pois o Reino de Deus não é marcado por hierarquias, organogramas, mas por pessoas que devem ter a marca do amor, da compaixão e da misericórdia, lembre, sede santos como o Pai é santo.



Podemos também visualizar o caminho do filho pródigo como a caminhada daqueles que são religiosos, que viviam nas dependências da instituição e decidiram trilhar o caminho inverso, em busca de sentido nesta graça divina e do aprendizado da fé, um caminho que é dolorido, uma via que nos leva a sermos pobres, de reconhecimento da nossa miserável condição. 



E depois dessa jornada sofrida e cansativa, aprendemos a caminhar melhor nesse reino, que é para todos, pois assim aprendemos a nos compadecer dos sofrimentos, das dores dos homens e assim, nos tornamos espelhos dessa graça que é preciosa. Que é multiforme e que transcende nossa racionalidade.



Graça que não é marcada pelo poder e pela política, que não se importa com a tradição e nem mesmo com a doutrina, apenas quer amar, quer se aproximar daqueles que sofrem, daqueles que necessitam, quer sofrer com eles, quer chorar com eles, quer levá-los a pastos verdejantes como no Salmo 24.



Será que estamos dispostos a fazer a caminhada do filho pródigo, ou preferimos viver como o filho religioso?



Pense nisso, a escolha é sua.

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