segunda-feira, junho 03, 2013

O suficiente nosso de cada dia nos dai hoje

Andando pela rua, me vieram a mente os versos da oração do Pai Nosso que assim dizem: “o pão nosso de cada dia nos dai hoje”.  Fiquei pensando: Por que Jesus, ao nos ensinar a única oração realmente intitulada como sua nos evangelhos, escolheu o pão? Por que não o boi nosso? O rebanho nosso? A floresta nossa? Enfim, coisas mais abundantes e grandiosas e que nos levariam automaticamente a uma maior serenidade.

Grifo o automaticamente porque é hoje assim que vivemos muitas vezes, “no automático”, sem muita reflexão, sem muita indagação, apenas no afã de termos bem mais do que sermos (jargão batido) e não termos apenas o suficiente, mas o acúmulo. A era pós-moderna ou seja lá como a queiram definir sociologicamente, nos leva  à sofreguidão do acúmulo, o que torna a própria oração do “Pai Nosso” obsoleta. Só pão? Não!

Não queremos o suficiente, queremos muito mais. Queremos nossas despensas transbordando, queremos consumir seja ao custo do planeta, ao custo de nossas saúdes, de nossas famílias e o que mais vier incluso no pacote chamado “vida”.

A própria teologia arrebatadora de corações e mentes informa que sinal da “benção de Deus” é ter. Mais uma vez o consumismo tomando centralidade onde deveria haver cristocentricidade.

Reflito em muitas de minhas inquietações e de muitos companheiros de jornada e percebo que muitas delas revelam contornos da ausência do “ter”, da cobrança por às vezes não querer mas “dever-ter”. Engraçado que aprendi nas aulinhas da faculdade de Direito dobre o “dever-ser” e hoje me pego pensando em tantos quantos vivem a ansiedade do “dever-ter” e todo o caos existencial que daí advém.

Ansiedade, medo, culpa, descontrole, pânico, bipolaridade, é a humanidade sendo levada aos limites da resiliência não por condições climáticas adversas, não por guerras (não daqueles moldes que conhecíamos antigamente), mas pelo afã de consumir.

Olho para esse quadro trágico-patético do qual não me retiro e deixo as palavras do Mestre reverberarem em meu coração: “o pão nosso de cada dia nos dai hoje”. Lembro ainda do “famoso-esquecido” Salmo que diz: “O Senhor é meu Pastor e NADA me faltará”. Ele nos trará o suficiente e muitas vezes o mais do que suficiente. Por que não? Não nego a generosidade, afinal Ele é o Abba-Pai que entrega o melhor aos seus filhos.

E o melhor, não é necessariamente o mais numeroso quantitativamente. Não confundamos quantidade com qualidade.

O filho de Deus viveu como carpinteiro, nos declarou que muitas vezes não tinha onde reclinar a cabeça e ainda assim produziu a grandiosidade de ser falado e lembrado até os dias de hoje.

Que a volatilidade das riquezas, a ilusão dos bens materiais e a transitoriedade de todas as coisas possam aquietar os nossos corações, que não sejamos como os que correm atrás dos ventos, ou como o homem da parábola, que após juntar muito em seus celeiros, achou que TUDO estaria resolvido e o que ele ouviu? “Louco, esta noite te pedirão tua alma!” (Evangelho de Lucas, capítulo 12)

O que daríamos em troca de nossa alma?

Que não nos falte o suficiente para calma em nossa alma e que ao final de cada dia agradeçamos ao Pai Celeste não pelo que ainda não temos, mas pelo que já temos e que com toda a certeza é o suficiente, pois “basta a cada dia o seu próprio mal” e acrescento “o seu próprio bem também”.

Roberta Lima


2 comentários:

  1. Amém!
    Enquanto "leio-te" penso numa frase que li faz tempo "O que tenho em Deus e muito mais do que aquilo que não tenho" nesse caso ter torna-se significativo e agrega valores ao meu ser e como precisamos entender essa verdade.
    Ro, em Deus temos o suficiente. Que tesouro não?

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    Respostas
    1. Sim, ISa!

      Em Deus temos o suficiente e quando entendemos isso, descansamos e aquietamos nossas almas.

      Abreijos, Imurchável!

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