Eu mergulhei dentro de mim. Resolvi morar no interior do meu interior, por um momento achei que estava segura, por um momento achei que seria a melhor escolha que eu poderia fazer, já que fora de mim perigos me rondavam o tempo todo, mas me assustei. Descobri dentro de mim alguns perigos tão nocivos a minha vida quanto todos outros perigos exteriores dos quais eu queria fugir. Dentro de mim havia uma casa muito bonita , branca , ornamentada, uma casa que com toda certeza qualquer pessoa gostaria de morar, ao lado dela havia uma fonte que imagino eu , deveria ser para saciar os moradores daquela casa. Mas ao lado da casa havia um caminho sombrio e no final dele existia uma caverna. Fui caminhando até a caverna e por ali fiquei. Ela não me era totalmente estranha... eu já havia estado ali antes, eu sentia que aquele lugar me era familiar. Fui me lembrando aos poucos que ali naquela caverna eu havia passado muitos momentos da minha vida.
Escura e silenciosa, ela me dava sensação de paz. Sempre que alguma situação me trazia a memória uma dor familiar, era para lá que eu voltava, do lado de fora, eu estava rígida, anestesiada, firme, impenetrável por qualquer sentimento, ninguém sabia, ninguém percebia que eu não estava ali presente fisicamente, sim ão estava ali, eu estava dentro de mim, escondida em mim mesma, ausente da minha própria vida, perdida no limbo que eu havia criado. Eu estava dentro da caverna, nem eu mesma, nem eu sabia...
Por muito tempo eu achei que isso era o certo a se fazer. Sempre voltava para caverna. Mas o que era para ser uma visita, um momento de reclusão para reflexão virou rotina. Depois virou moradia. Se conhecer , se dar um tempo é bom , é frutifero , é saudável, porém querer ficar só e para sempre em uma caverna não. Não é nada sadío. E não foi para mim. Sou uma pessoa falante , comunicativa, espontânea , gosto muito de estar com amigos, conversar, rir , brincar, e percebi que havia perdido prazer em fazer o que eu gostava simplesmente, para estar na caverna, pois julgava ser mais seguro para mim. Percebi que meus olhos se acostumaram com a escuridão da caverna. E não foi difícil eu perder dias de sol, a esperança, e toda a alegria que poderia existir fora da caverna... foi tudo questão de tempo. E foi o que aconteceu.
Com o tempo, eu esqueci qual era o caminho de volta para a casa. Aquela bela, decorada e bonita que estava logo ali ao meu alcanse. Logo aquela casa tão bonita que meu Pai construiu para ser sua habitação, sim logo ela... simplesmente, me esqueci .
Eu ficava dentro da caverna quase que todo o tempo, digamos que a maioria dos meus dias, (eu não me lembro a primeira vez que fui parar lá, nem desde quando, suspeito que ela já esteva ali antes mesmo da casa e da fonte ). A luz entrava pelas frestas e eu via o que acontecia la fora através de sombras. E por sombras que eu via a realidade externa a caverna onde eu estava. Sombras não são reais, e minhas reações em resposta ao que eu via através das sombras eram reais. E como eram. As pessoas a minha volta não percebiam, talvez porque elas também não saibam dicernir sombras de luz, mas havia um que sabia. Ele, quem construiu a fonte, e a casa, ele sabia... e no momento certo, Ele entrou na caverna. Mas não o reconheci, quando se está muito tempo no escuro, qualquer tipo de luz cega, e Ele é a luz, a luz do mundo. (João 8-12)
Aos poucos ali dentro da caverna, pensando e ponderando a minha ida até lá, com olhos fechados, com a luz D'ele refletindo no meu rosto, dentro de mim veio a constatação: Eu era covarde! Assustei. Como se meu "eu" dissesse para mim mesma, como ousa dizer isso de mim? Eu sempre tenho razão... Não, naquele momento sabia eu que essa constatação era a mais certa que eu já tinha chegado a conclusão nos ultimos anos. Diante de mim passou um filme da minha vida, de todos os momentos , de todas as coisas que me aconteceram, e então, não tive como resistir... somente concordar. É Senhor , estou sendo mais uma vez , covarde. Imediatamente após concordar, o arrependimento brotou no meu coração que até então estava congelado e frio, lágrimas brotaram nos meus olhos secos, e na mesma hora a seguinte frase me veio a boca: É, eu poderia ter amado ainda mais...
Emudeci diante de mim mesma. Chorei.
Haviam meses que minhas lágrimas não me traziam paz. Haviam dias que eu não conseguia chorar, mas essas, trouxeram junto a paz e o alívio que minha alma precisava.
Disse para ele: Eu não quero ser covarde, eu não quero desistir, me ajuda?
Ele não respondeu, mas... eu sentia a paz que ele me deixou, então adormeci. Ali dentro da caverna, eu dormi.
Acordei horas depois com uma sensação de que alguma coisa tinha me acontecido, e que eu não seria a mesma dali para frente. Me coloquei de pé... arrumei o cabelo , e então ouvi um som, um som como voz de muitas águas que me chamavam para fora da caverna. Abri um sorriso largo e fui... Quando pisei fora dos limites da caverna, tive uma sensação de medo repentino, misturado com alegria , mas eu dizia para mim mesma , desculpa caverna mais não quero precisar de voltar para você nunca mais...
Me assustei comigo novamente, senti que um sentimento novo estava brotando dentro de mim: Coragem.
E então enquanto eu pensava comigo, ouvi um barulho estrondoso, quando observei a porta da caverna estava sendo coberta por muitas pedras... Pensei: agora nem que eu quisesse voltar não iria conseguir, a porta estava completamente cheia de grandes rochas, precisaria de muito trabalho para entrar lá novamente... e um trabalho que eu não queria precisar de ter.
Depois daquela cena, eu decidi pegar a trilha de volta... estou caminhando por ela, quero voltar para a fonte e entrar na casa. Enquanto isso, vem comigo que no caminho eu te explico.
A lagarta. Si Caetano.
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