Alexandre tinha 23 anos quando foi visitar pela primeira vez, e a convite de um amigo de trabalho, essa nova denominação evangélica neopentecostal. Tinha ouvido muita coisa boa a respeito do pastor, do louvor que tocavam lá e dos testemunhos sobre curas, milagres e grande mover de Deus naquela comunidade. Já caminhava com Cristo há alguns anos, participando ativamente das atividades de um ministério com longa tradição dentre as igrejas pentecostais no Brasil. Ficou curioso e fascinado com a ideia de que o Espírito Santo atuava, nos nossos dias, muito parecido com o que lia na Bíblia: curas, milagres e uma presença tão palpável que as pessoas caíam com a manifestação do próprio Deus.
Era mesmo tudo o que ouviu dizer. Visitou uma, duas, mais vezes e tudo o que experimentava era incrível. Decidiu por mudar para o novo ministério e desligou-se de onde congregara por quase quatro anos. Seu pastor ficou furioso e ele saiu de lá sob pressão pastoral de que seria amaldiçoado porque esse tal novo ministério nasceu a partir de um racha na denominação. Alexandre não se deixou abater e transferiu-se. Fez novos amigos, começou a frequentar as reuniões aos sábados e sentar com uma turma de jovens nas celebrações de domingo. Participou de seminários fantásticos, onde as pessoas recebiam ministérios proféticos, descobriu o que era o tal mover do Espírito quando caiu na unção. Teve sonhos, visões e palavras proféticas. Estava num nível espiritual que jamais havia alcançado antes.
Alexandre não demorou a interessar-se por trabalhar no ministério. Com grande habilidade para as artes, especialmente teatro, entrou para o grupo já existente e começou a ajudar nos trabalhos. Fez o papel de Jesus numa das peças de grande produção da comunidade. Tudo ia muito bem. Então, com paixão pelo ministério de intercessão, decidiu ingressar também. Foi informado de que era necessário marcar um aconselhamento com o pastor presidente do ministério e levar, já preenchida, uma ficha de libertação e que no dia deveria estar em jejum. Passou na secretaria, pegou a extensa ficha e agendou o aconselhamento. Em casa, sozinho no quarto, pegou uma caneta e passou a ler a tal ficha, ficou surpreso com as perguntas que iam desde a origem religiosa de seus antepassados quanto si próprio. Com coração disposto, ainda que receoso, foi sincero como jamais o tinha sido e anotou toda a verdade. Guardou a ficha no envelope de papel pardo e aguardou o dia do aconselhamento.
Chegou dez minutos mais cedo e entregou a ficha nas mãos da secretária que imediatamente levou até o escritório do pastor, pedindo que aguardasse um pouco. Vinte minutos se passaram e ele sentiu-se desconfortável. Logo depois a secretária anunciou que podia entrar. Ao chegar na porta, pediu licença e entrou e do outro lado da mesa o pastor levantou os olhos da ficha, sorriu levemente e o cumprimentou, pedindo que se sentasse. Conversaram um pouco sobre a vontade de Alexandre de participar do ministério de intercessão e o pastor falou sobre as responsabilidades dos intercessores, dos riscos e um pouco de batalha espiritual. Então, faltava apenas ministrar a “libertação”, afim de que toda maldição fosse quebrada, os pecados confessados e as brechas restauradas. Começaram então uma série de renúncias sobre todos os envolvimentos espirituais anteriores à fé cristã, seus e de seus antepassados. Passaram para as questões emocionais referentes aos vícios e pecados e então, o choque. O pastor arregalou os olhos ao ler sobre a área sexual e num impulso disse em alta voz: Você é gay?! Já teve relações com outro homem?! Como é que pôde ter feito algo tão abominável aos olhos de Deus?! Quando foi isso?! Mas você não estava namorando uma moça quando veio pra cá?! Que vergonha!
Alexandre sentiu suas pernas tremerem e, por um instante, parecia que o ar não entraria de novo por suas narinas para dar novo fôlego aos seus pulmões. A sala ficou pequena, o ar rarefeito, parecia pisar num lugar frio, escuro, úmido e muito estreito. Assustado, não soube o que dizer, os sentimentos furtaram seu raciocínio e aquela onda de rejeição que já sentira tantas vezes antes ao longo de sua vida, invadiu-o subitamente. Com os olhos marejados, só balançou instintivamente a cabeça em posição afirmativa. Era gay, o que o “mundo” classificaria como bissexual, na verdade. Mas o que importava era que sim, ele teve relações com outra pessoa do mesmo sexo. Daí em diante, respondeu uma série de questões: Sim, fui abusado por um primo dois anos mais velho quando era pré-adolescente; Sim, me envolvi algumas vezes com rapazes; Sim, namorei uma moça; Não, não tive relações sexuais com ela por causa da nossa fé cristã; Sim, estou disposto a viver para Cristo e buscar a santidade sexual... Mas ele não estava mais ali. As palavras ecoavam de um lado para outro da sala e repetiu, sem sentir nenhuma paz e ânimo mais, as orações de renúncia.
Alexandre sumiu por uns dias. Faltou na reunião de jovens no sábado seguinte e na reunião do domingo. Alguns amigos sentiram falta e o que outro crente que trabalhava com ele foi logo perguntando por que tinha faltado nos cultos do fim de semana. Deu uma desculpa e concentrou-se em trabalhar, evitando qualquer conversa. Mais uns dias se passaram e ele se manteve distante. Duas semanas depois, voltou. Depois sumiu novamente. Os meses seguintes foram de aproximação e afastamento. De erguer-se e cair. Não resistiu às investidas de um cara com quem dividia o mesmo ônibus todos os dias para o trabalho. Cedeu. Envolveu-se. Parou de congregar. Os amigos souberam, tentaram ajudar. Mas as feridas abertas pareciam piores. Onde esperava misericórdia e apoio, encontrou rejeição. Não conseguia estar lá e ouvir a pregação daquele pastor. Que "homem de Deus", afinal, era aquele?
Alexandre, por fim, cansou de precisar liberar perdão, de orar, de jejuar e de clamar a Deus que mudasse sua condição. Dependia o tempo todo de que os amigos crentes estivessem com ele para que não fosse para a balada e se lançasse à promiscuidade e relações ilícitas. Não conseguiu. Mudou de emprego, de casa, assumiu a homossexualidade como opção para toda a família e começou uma vida nova com outro cara.
De vez em quando ele liga, pergunta sobre os antigos amigos e sobre o ministério. Águas passadas, que parecem não voltar mais.
Infelizmente, isso tudo, eu tenho visto...
(Alexandre é o nome fictício de alguém que conheci...)
Andréa Cerqueira
Que Deus me ensine a ser sábia ao lidar com as pessoas.
ResponderExcluirO que será desse rapaz ? Eu creio que ele ainda ama a Deus, mas já não pode fazer parte de toda essa falta de amor. Infelizmente no meio do povo de Deus, há lugar para essas coisas e nem sempre todos estão ou são fortes o bastate para superar isso.
Mais uma triste história de pessoas que são marginalizadas pela hipocrisia, preconceitos e indiferença aos ensinos de AMOR E GRAÇA DE CRISTO. Eu só tenho uma coisa a dizer para este rapaz: A MELHOR COISA QUE ELE FEZ FOI ABANDONAR A INSTINUIÇÃO DENOMINACIONAL RELIGIOSA. E a verdadeira a adoração e congregação é em espírito e verdade, pois, são estes que Deus procura como verdadeiros adoradores. Daqui pra frente quem vai conduzi-lo e ensina-lo a toda a verdade é o ESPIRITO SANTO DE DEUS 1Jo 2.22,27. Espero que ele confie daqui em diante somente no unico PASTOR E BISPO DE NOSSAS ALMAS que é o nosso AMIGO CRISTO JESUS QUE NÃO NOS ACUSA MAIS DE NOSSOS NOSSOS PECADOS.
ResponderExcluirNossa meu coração de moveu de intima compaixao... Lembro das palavras do Mestre qiando disse:"Todo aquele que o Pai me der virá a mim, e quem vier a mim eu jamais rejeitarei."Jo 6 e o que fazemos simplismente rejeitamos..." Oh Senhor nos perdoe e nos ajude a amar como o Senhor ama...Franciele
ResponderExcluirSabe, sei que esse espaço é um lugar para sinceridades e transparências, falo isso por mim e sei que entende o que eu falo quem já me conhece um pouco mais, mas isso tudo me dá nojo, não suporto mais saber esse tipo de coisa, não aguento mais ver tanto "facismo" pois é bem isso que esse sistema religioso se tornou, homens que se demonizaram em suas próprias hipocrisias e são bem piores que os opositores do tempo de Jesus, pois aqueles pelo menos não atiraram a primeira pedra esses atiram todas até concluir a chacina. Que isso seja denunciado, que Deus conceda que as pessoas abram os olhos e parem de entregar suas vidas nãs mãos de sacerdotes vagabundos e bandidos. E pelo amor de Deus leia o Evagelho e vejam a maneira como Jesus caminhou, ensinou, respeitou. Jesus, o Evangelho, se alguém puder entender esse escândalo, Ele pagou todas as dívidas de uma vez por todas. É isso. Desculpe a maneira ou palavras, mas não retiro nada que disse. Abraço.
ResponderExcluirAcho o relato triste e completamente real. Pastores que não sabem pastorear, mas julgar, ferem, desiludem e maltratam o rebanho. Que o Senhor tenha misericórdia de todos nós!
ResponderExcluirtriste saber que essa história corresponde a história de muitos jovens na igreja. Enquanto uns sofrem por terem expresso sua antiga opção sexual, outros fazem da homossexualidade a sua opção entretanto com uma atitude hipócrita por medo de ser rechaçados pelos membros. Afinal eu me pergunto todos os dias: Quem somos nós para julgarmos os outros??? Nós que temos pensamentos e sentimentos tão pérfidos quanto os de um homossexual assumido??? Nós que falamos tanto do Amor Soberano de Deus e não somos capazes de demonstrar um pouco de amor para com nosso próximo??? E pior ainda somos capazes de dizer que somos cristãos quando nos preocupamos apenas com nós mesmos... Deus derrame de sua misericórdia e salve sua IGREJA...
ResponderExcluirDURANTE MUITO TEMPO PROCUREI ENTENDER CERTAS COISAS NO EVANGELHO E POR OUTROS TANTOS TEMPOS ACHAR ALGO QUE ME FIZESSE ENTENDER "os EVANGELICOS" ME CONSIDERO APENAS ALGUÉM QUE DIA APÓS DIA PROCURA FAZER A VONTADE DE DEUS,TENHO CICATRIZES DE TEMPOS TENEBROSOS,LEMBRANÇAS DE DIAS CINZAS E FRIOS...MOMENTOS PASSADOS CRISTO ME LEMBRA TODAS AS MANHÃS QUE SOBRE AS NUVENS CINZAS O SOL AINDA BRILHA...CRISTO MEU SOL DA JUSTIÇA.SEMPRE HAVERÁ ALGUÉM QUE TENTE TE ENVERGONHAR,PESSOAS QUE NÃO ENTENDEM,DEDOS,LINGUAS,TAPAS,SILÊNCIOS ENSURDECEDORES MAS DEUS ELE COMPREENDE E PORQUE ELE COMPREENDE PODEMOS DESCANSAR...ALGUMAS VEZES EXISTE UM "ALEXANDRE" NO ESPELHO DE ALGUÉM..OU JOSÉS,MARIAS E POR AI VAI...
ResponderExcluirGRATA POR ESTE POST,OBRIGADA
Caramba! É de cortar o coração, Andréa.
ResponderExcluirSorte dele que na sala pastoral não tinha pedra, senão ele teria levado várias deste fariseu. Se o pecado do cara fosse ter matado alguém, ou sido ladrão, não duvido nada que o tal "pastor" achasse bem menos grave e até viesse a aceitá-lo.
Se este cara for do Senhor, um dia Ele o busca e o traz de volta. Tomara!
Puxa, é muito triste isso... chega a ser revoltante, pq a igreja deveria ser includente e não excludente, deveria acolher, amparar e ajudar a uma pessoa que demonstra o desejo de superar alguma dificuldade e buscar uma vida com Deus! Jesus Cristo deu exemplo disso o tempo todo, Ele mesmo deu exemplo ao ir na casa de Zaqueu, ao ir ao encontro da mulher samaritana... e tantos outros casos.
ResponderExcluirQuem mais precisa de ajuda, n recebe nenhuma, além de ser julgado e condenado por homens, qdo o próprio Jesus n ensinou isso...
O q nos resta agora diante desse triste caso?! Orar por esse amado irmão "Alexandre" e orar pelo pastor e demais cristãos que estejam agindo assim...
Deus, me ajude a n fazer isso com meu semelhante! Deus, nos ajude a n fazer isso com nosso semelhante!
Triste :(
Não sou a favor do homossexualismo, mas isso nunca me faria ser contra uma pessoa. Devemos odiar o pecado, mas amar o pecador. Uma vez contei uma história de uma menina que conheço, 12 anos, que foi descoberta em relacionamentos homossexuais, porém ao invés de cuidado, recebeu a rejeição de suas amigas, das mães de suas amigas, de sua igreja e de deus líderes. Nós, filhos de Deus espalhados pelos quatro cantos, somos o Corpo de Cristo, verdadeiramente Igreja. Cabe a nós acolher, aconselhar, cuidar e mais do que tudo: AMAR. O amor não acusa, não julga, não suspeita mal.
ResponderExcluirAceitar o pecador não é aceitar o seu pecado,
afinal somos todos pecadores. Porém, não fazer nada e deixar que o homossexual (assim como tantos outros , que podemos chamar, distúrbios emocionais) continue vivendo dentro do homossexualismo é fechar nossos olhos, numa aceitação que nos levará a ser cúmplices das consequências que virão sobre essa pessoa.
Acredito aquele garoto, assim como muitos outros se encontrava apenas em uma constante dúvida, dúvida essa que tomava sua cabeça o fazendo seguir um caminho vago e sem rumo, a única coisa que ele precisava mesmo, era um incentivo, um consolo, que o fizesse transformar suas dúvidas em certezas, que talvez transformasse a vida daquele garoto o fazendo acreditar cada dia mais em sua capacidade em sua vontade de crescer, não só na vida pessoal como espiritual, não julgando seu pastor mas apresentando minha crítica, acredito sinceramente que aquele pastor não sendo sábio o bastante dizendo coisas ofensivas não pensou no que realmente perturbava aquele garoto, não pensou se quer o quanto talvez ele já não tinha sofrido com suas escolhas.
ResponderExcluirAfinal de contas deus não nos permitiu julgar ninguém mas afirmou que o verdadeiro julgamento seria em sua chegada, levando os que merecem e condenando aqueles que não seguiram os seus caminhos como deviam.
Deus não quer que sentíssemos raiva dele, mas nos chama para vir a ele do jeitinho que somos, ele não quer que sofra para mudar apenas por que um humano mandou, mas disse que ele mesmo o mudaria fazendo de nós verdadeiramente novas criaturas em sua presença, hoje quero apenas que deus ilumine o caminho desse menino que ele o direcione no caminho certo, tire toda a mágoa que ele possa estar sentindo por esse pastor, e no mais que deus possa ensina-lo o ensinamento dele, para que ele não passe por mais uma decepção como essa por conta de alguém que não soube o encaminhar para o caminho correto.
Dor na alma... Só isso que posso dizer...
ResponderExcluirTristeza...
ResponderExcluirMas isso me faz pensar no que "EU" tenho feito?!
Muitos são os pré-conceitos, muitos... As vezes ficamos indiguinados com atitudes de outros, mas o que eu tenho feito?
Minha falta de ação e/ou meu simples silêncio pode estar cooperando com a falta da Graça de Deus para muitas pessoas. Deus me perdoe e me ajude a agir.
Existem muitos Alexandres, Robsons, Ricardos caminhando errantes e definhando de dor! Precisando de cuidado, de carinho e afeto. Passei três anos ao lado de um Alexandre, ele precisava de colo, de compreensão, precisa ser incluído, ouvido amado! Minha igreja nunca soube quem realmente era era, mas eu sabia, foi um abrir de olhos para uma realidade que até então estava desconhecida por mim.
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