Balneário Camboriú, 22 de novembro de 2011
Carol*,
Não sei se devo chamá-la por seu verdadeiro nome diante do público que agora nos lê. Ontem foi seu casamento e eu não fui.
Há tantos motivos que justificam a minha ausência, mas um maior do que todos justificaria minha presença: você.
Inevitável não lembrar de nossa história juntas. O 1º dia em que a vi, seu olhar desconfiado, acompanhado o Andi na igreja. Eu estava tentando “salvar” a alma dele, via o sofrimento de sua família por tudo o que ele fazia, estendi a mão para ser amiga e mal sabia o universo que me acolheria em uma dessas esquinas da vida.
Vocês saíram antes do culto acabar, iam para outra cidade e sei que foram fazer algo que mais tarde saberia ser cotidiano: ir em busca de droga, da melhor e da mais em conta e em mais alta quantidade, afinal de contas vocês não eram tão poucos.
No outro dia o Andi chega em meu apartamento contando que havias simpatizado comigo, não sei quanto tempo depois (sei que não demorou muito ), estava conhecendo a tua casa. Casa que não era lar. Um belo e bem localizado apartamento dividido com outras moças. O ar era pesado e meus pulmões não sorviam apenas o cheiro de cigarro e drogas entranhado no ar, sorviam também as cinzas da tristeza de vidas que ali se enchiam de coisas que apenas os roubavam de si mesmos e dAquele que é a verdadeira Vida.
A naturalidade com a qual vocês tratavam a vida “profissional” de vocês me assustava, eu tentava não mostrar espanto, mas ouvir o seu telefone ou de algumas moças tocar e vocês combinarem o valor do “programa”, o que o “pacote de serviços” compreendia, o valor com desconto quando iam duas era estranho e até mesmo assustador. Ver pessoas tratando-se como coisas, “vendendo” sexo (a máxima expressão de intimidade e carinho) como um produto era alheio aos meus ouvidos e meu coração.
Por vezes me perguntava se meu lugar era ali mesmo com vocês, mas eu chegava e você me olhava com um certo carinho desconfiado, as outras garotas também pareciam sentir o mesmo. Éramos humanas, da mesma espécie, do mesmo material, mas nos estranhávamos mutuamente.
Eu era recém egressa de um conceituado seminário, tencionava colocar em prática alguns métodos evangelísticos e teorias, o que percebi é que a verdadeira técnica, o verdadeiro método cabe dentro da palavra AMOR.
Era preciso amá-las, aceitá-las incondicionalmente, deixar o meu olhar julgador morrer e lembrar-me que Ele foi considerado amigo de pecadores e prostitutas e assim tentei o melhor que pude ser amiga. Simples assim.
E os dias foram passando, vi muitas coisas que não gosto de lembrar, mas algo em especial estará sempre em minha memória: seu desejo de mudar. Confesso que não levava muita fé nessa vontade em muitos momentos. O dinheiro vinha fácil, mas o fato é que também ia muito fácil. Era algo volátil.
Lembro-me de tanta coisa que não cabe aqui, seriam muitos posts para contar todas as nossas histórias. Você diz que eu não desisti de você, não fui eu. Foi ELE que não desistiu de nós. De nos ensinar através de Seus misteriosos caminhos que há sempres recomeços e novas oportunidades.
Assim aconteceu: lembro-me de quando as outras moças foram para outras cidades, o verão havia passado e já não havia tantos clientes pela cidade. Você queria ficar mas não haveria como se manter. Parecia que tudo estava perdido.
Pegamos o novo testamento que eu havia dado com uma pequena dedicatória para você e cada um da turma. Você estava com uma visita e ela parecia “descascar” um torrão de maconha e também ouvia nossa conversa e uma chuva tenebrosa começou a cair.
Eu acho que nunca te contei, mas aquele foi um dos momentos mais assustadores da minha vida. Questionei em meu interior: “Deus , é isso mesmo? “ . Minha vontade era sair correndo dali, mas percebi que não há tempo ou lugar e muito menos circunstâncias que nos impeçam de falar do amor Dele.
Depois de um tempo a chuva passou e você em seu desespero pediu para ir a igreja. Tirando o “meio culto” no qual nos conhecemos, não havias mais ido à igreja alguma e naquele dia você quis ir. Assim fomos, em meio a ruas alagadas, em meio a uma chuva fina que caía. Sentamos lá no final e você chorou, chorou muito. Confesso que nunca vi alguém chorar tanto. A cada canção entoada sua alma se revolvia em soluços e choros. Por mais que ali dentro você tenha reconhecido “alguns clientes”, você não se importou. Sua alma estava faminta por Ele, por uma resposta Dele e quando o pastor começou a pregar. Eis a palavra: Lucas 15 – O filho pródigo. O seu choro estrondou. As pessoas olhavam para trás, eu fui ao banheiro pegar quase um rolo de papel [rs], mas eu chorava também. Eu sei que você saiu de alma lavada naquele dia.
[continua depois...]
*nome fictício
Não pude crer que não veio o fim da história..rrs... morrendo de curiosidade....
ResponderExcluirbjhos
Adorandoooooooooo !!! :D rsrs
ResponderExcluirUfa, preso agora estou neste suspense...
ResponderExcluirPorque fui começa a ler..... kkkkk
Ah! essa bendita curiosidade de nos aquece a alma!!! rsss
ResponderExcluirAi ai ,quero ver o final!
ResponderExcluirNão faz isso não,conta logo,rsrsrs...
Roberta, vc é muito chata, sua Mala do Reino!!! Conta logo o final desse trem pra nós, uai!!! rs...
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