No meio do caminho tinha um coração de pedra, tinha um coração de pedra no meio do caminho. Tati Bernardi Drummondiou os famosos versos que diziam:
“ no meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho”
Percebo que hoje muitos de nós carrega não mais corações de carne, mas sim corações de pedra.
Lembro-me então do que exclamou o profeta: "...eis que vos darei um coração de carne (…)" - Ezequiel 36:26
Se pensarmos dentro da perspectiva física, um coração de pedra é inviável para a vida, ele não pode bombear sangue, não pode pulsar, ele pode até existir, mas nada irá transmitir. É mais resistente do que um coração de carne, a proteção pétrea é bem maior do que a proteção carnal, mas talvez proteção não seja a função precípua do coração, ainda que muitas vezes existam alertas para que guardemos nosso coração.
PV 4:23 - "Sobre tudo o que você deve guardar, guarda o teu coração, pois dele procedem as fontes da vida"
Mas guardar é diferente de trancar, é diferente de petrificar...de forma simples mas não simplista, ouso dizer: guardar significa saber onde colocar nosso coração.
Todavia, percebo que é mais fácil e por vezes mais cômodo e porque não afirmar também que mais seguro é manter o coração de pedra.
Insensível ao clamor do próximo, insensível a algo que circunde além de nossos próprios umbigos e, o pior de tudo, insensível à doce voz Dele que muitas vezes se manifesta como um cicio suave.
Muitas vezes as dores foram tantas, as decepções tamanhas, as pancadas tão fortes que precisamos nos conter para não endurecer todo o nosso ser. Parece ser mais fácil embrutecer, desdenhar, ser indiferente, não ligar...se coligar ao próximo é também correr o risco de sofrer.
Amor e sofrimento por vezes não se dissociam. 1 Co 13 afirma que o amor TUDO sofre. E ainda que enfrentemos certa dose de sofrimento ao amarmos, ao nos deixarmos ser feitos de coração de carne e não de pedra, é necessário que percebamos que a parte é maior do que o TODO. Amar não é igual a sofrer. Amar implica algo que transcende a dor, como também transcende esperas, invejas, desconfianças e todo o rol de situações e sentimentos expostos em 1 Co 13.
Somos eternos aprendizes da vida e nosso coração é por vezes nossa bússola, bússola que se conturba, que perde o rumo e o prumo muitas vezes por causa da ansiedade, do medo, da dúvida.
É arriscado nos humanizarmos, é arriscado nos expormos, é arriscado ter um coração de carne. Mas é assim que o Pai nos deseja: divinamente humanos, com um coração moldável, vivo, pulsante, latente e que pode bombear o amor que emana Dele por vários lugares. O coração de carne ajuda a oxigenar a vida, a trocar as coisas velhas pelas coisas novas...ele pode acelerar e nos avisar dos perigos, ele também pode bater forte e nos mostrar com toda intensidade como é bom sermos e estarmos vivos.
Diante de nossos caminhos podem aparecer corações de pedras, podemos nós mesmos tropeçar em nossos corações petrificados, mas que estejamos abertos ao recall* divino que nos chama à troca pelo coração de carne, pelo único coração realmente vivo e viável, pelo coração que pode bater em consonância com o coração do Mestre Jesus, que teve o coração angustiado, pesado, mas que aprendeu com cada sofrimento que viveu, com cada situação que padeceu...
Termino com um pensamento de Saramago que muito aprecio:
“Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu fizeram de carne e sangra todos os dias”
Roberta Lima
Ê Roberta, não foi só o seu coração e o do Saramago que fizeram de carne, o meu também, por isso ele também sangra todos os dias, se decepciona, chora, grita e tenta sempre uma reconstrução total. Todos os dias tento lembrar que tenho que ser uma nova criatura ao acordar, que sou feita à imagem e semelhança de Cristo, que tolerância gera tolerância, que paciência gera paciência e que amor gera amor.
ResponderExcluirMuito interessante a sua colocação Drumondiana e Saramagoana.rs. Mas quero dizer que meu coração tal qual o de vocês, também sangra, chora, grita, esperneia e se corta. Contudo, todos os dias ao acordar lembro-me que sou feita à imagem e semelhança do Pai e que tolerância gera tolerância, paciência gera paciência e amor gera amor. Nele e por Ele que tudo nos ensinou. Um beijo no coração. Ednamar Thomaz
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