domingo, agosto 14, 2011

P(Ai)

Ser pai é muitas vezes trazer alguns “ais” aos filhos.

“ais” de correção
“ais” de decepção
“ais”de extrema emoção

Meu pai se foi, mas ele continua a trazer seus “ais”.


Ai como ele me faz falta, precisava tanto que ele me falasse, ou então simplesmente em um olhar me dissesse tudo o que eu preciso saber.


Ai como sinto falta de seus ensinamentos, de chegar em casa e ser colocada à par das notícias locais, nacionais e mundiais...


Ai como estou alienada pai, já não consigo acompanhar todos os fatos e o que é pior, sinto falta do teu falar crítico que lia pelas entrelinhas, que muitas vezes demonstrava que sabia o que ninguém mais sabia.

Tantos “ais” passamos juntos.

Ai como doeu saber quando você traiu minha mãe. Ai como doeu vê-la chorar e só entender muitos anos depois o que tinha acontecido.

Ai como foi difícil confiar que homens poderiam ser confiáveis depois de algumas que aprontaste em teu casamento.

Ai como dilacerou a mim, minhas irmãs e minha mãe as tuas bebedeiras. Algumas revertidas em agressões, loucuras, acidentes e por fim, uma falência quase total. Mas algo nunca faliu, o teu caráter, a tua honestidade, a tua bondade...

E, ai, como foi bom ver minha mãe te perdoando, minhas irmãs te perdoando, eu te perdoando, ver tu mesmo se perdoando, se redimindo, encontrando Aquele que é a fonte de todo perdão e de todo amor.

Ai, como doeu te ver adoecer quando tudo parecia tão bem.

Ai, como foi terrível te ver partir sem mesmo ter tempo de ouvires meu adeus.

Ai, como tu nos fazes falta. Acho que não há um dia sequer que de ti não me lembre, às vezes imagino que abrirei a porta de casa e te encontrarei sentado no sofá com uma xícara de café na mão.

Ai, pai, como me ensinaste, como me estimulasses, como acreditasses em mim, como me amasses de forma silenciosa.

Ai como me incomoda ver as vitrines enfeitadas para os pais e saber que não poderei levar-te um presente.

Eu sei que há muitos marcastes, à minha mãe ensinaste que um amor de verdade se faz de reconstruções, reparações, perdões e que ele jamais morre, até mesmo quando parece
sepultado, o amor se renova, se transforma, ressuscita. 30 anos de casamento. Muitas histórias para contar. Ai como queria ver estes 30, virarem 60...

Ai como queria que fosses ao meu casamento, que conhecesses os filhos que ainda terei...

Como diz o poeta-cantor: “ai, quanto querer cabe em meu coração”

Hoje vivo tantos quereres, tantos esperares, mas ai como me dói a saudade de ti.

Das músicas que contigo aprendi a ouvir
Dos nãos fazeres que de ti absorvi.
Ai, como foi bom ter um pai tão humano como tu.
Foste anjo e demônio.
Herói e algoz.
Foste tu.
E me ensinaste mais do que ninguém nesta terra o que é o amor
De m(ai)s a m(ai)s continuo aprender com o nosso Eterno PAI o que é o amor
É Ele que me consola em meio a dor
É Ele que me abraça quando sinto medo
E é Ele que me faz entender que “perder-te” para Ele é ganho eterno.
Ai, sobram “ais”
Mas sobram também lições e transborda amor.
Feliz dia dos P(ai)s!
Amo a ti e amo ao nosso comum PAI!
Roberta Lima

Um comentário:

  1. Há 5 anos perdi meu pai. Até hoje lembro-me de nosso ultimo olhar das ultimas palavras e foi a primeira vez que compreendi o silêncio e o quanto ele pode dizer. Meu pai, quanta saudade ao lembrar-me de seu abraço. Do tempo em que a falta era saciada com um telefonema e até mesmo indo até sua casa. Aos poucos Deus transforma a saudade em boas lembranças... Robertinha como é confortável ao coração ler tais palavras como são belas. bjusss imurchável linda

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