Fiz uma visita à minha avó paterna no fim de semana e, como
sempre, foi um momento memorável. Acontece que sempre que nos reunimos
surgem aqueles papos descontraídos dos quais também participam tias, tios,
primos e primas, com inevitáveis momentos “túnel do tempo” e a certeza de
crises de risos. Dessa vez foi bem especial, pois além de minha avó, estive com
mais três tias, e como sou agora adulta, as histórias que
elas resgatam da juventude são ainda melhores que as que me contavam enquanto
era criança ou adolescente. Simplesmente me envolvo e aprecio cada um
desses momentos.
Volto para casa sempre com um sentimento de nostalgia, uma espécie
de saudade que parece teimosa, persistente, infinita. E, entre risinhos seguidos de gargalhadas por lembrar das bobagens ditas, as descobertas e as
crises de risos, vêm à tona inúmeras lembranças da minha infância e,
principalmente, da adolescência. Estava recordando uma fase em que todas as
minhas amigas (e eu, claro) tínhamos um "caderno de perguntas e respostas", composto
sempre por 100 folhas, as quais eram numeradas e continham em cada primeira
linha uma pergunta, assim, cada caderno continha 100 perguntas no total. Trocávamos esses
cadernos entre nós e a ideia era responder sinceramente cada uma
daquelas perguntas, de preferência, resumindo em uma linha ou duas no máximo,
para sobrar espaço para a próxima amiga (será que o criador do Twitter
respondeu um dia um desses cadernos de questões?!). E quando um dos meninos
aceitava responder também, podíamos considerar aquele caderno um verdadeiro
troféu (a questão é simples, homens não gostam disso e nós os achávamos muito,
mas muito chatos mesmo por não participarem conosco). Demorei algum tempo para
perceber que quando um dos meninos aceitava responder, geralmente ele estava
interessado em namorar uma das meninas da turma e o caderno de questões era uma
excelente forma de mandar o recado! (risos).
Estava lembrando de algumas das prováveis respostas que eu
dava para perguntas como: Com quantos anos você gostaria de se casar? 24 era
minha resposta mais comum (porque responder que eu não tinha certeza se queria
me casar dava tanta confusão que nessa eu deixava a sinceridade um pouco de
lado!). Mas quando cheguei aos 22 anos, pensei: "Você não é nem louca, dona Andréa,
de assumir tão cedo uma responsabilidade tão grande, esqueça!". Lembrei de outra
pergunta que nunca faltava num desses cadernos: Qual seu esporte favorito? Eu,
que amava vôlei e futebol, só para provocar respondia: Beijar! (Era só para provocar,
ok? hehehe). Desde perguntas sobre qual sua cor favorita (na época era
amarelo, depois mudei para azul), até qual profissão você gostaria de ter,
percebi que das respostas que me lembro, muita coisa na minha vida saiu
completamente diferente, ou mudaram, simplesmente.
Nem tudo saiu como sonhei
até o momento, mas algumas coisas foram ainda melhores. Por exemplo, eu pensava
que se fosse mãe um dia, queria ter dois filhos, mas aos 14, 15 anos, o que eu
sonhava mesmo era ser titia (e sou, de uma menininha que atualmente tem 4 anos
e me conquista todos os dias com sua esperteza além da conta e palavras
rebuscadas, e de um menininho de 2 anos que adora me “assustar” dizendo “buuuu”
assim que me vê e sai correndo para me abraçar pelas pernas). Ainda não tenho o
‘meu canto’, meu Jeep e quem sabe um cachorro. Mas tenho um papagaio há 20 anos
e não imaginava que ele viveria tanto! Me formei na profissão que desejava aos
14 anos e da qual já tinha desistido por falta de condições financeiras. Não
casei com o cara por quem me apaixonei naquela época, mas amei e fui amada e
aprendi que é preciso amadurecer muito mesmo para não se arrebentar
demasiadamente nessa área. Já conheci vários lugares que desejava. Voltei a ser
eclética para o gosto musical (na época só ouvia rock).
Pois é, muita coisa mudou, embora na época eu tivesse plena
convicção de que aquilo que estava “no meu controle” não mudaria nunca! O que
não muda, apenas aumenta , é o sentimento de gratidão por tudo isso. Cada fase
da vida com seus sonhos, beleza, encanto e também a realidade, que muitas vezes
contorna e transforma tudo em nós. Viva os sonhos, a nostalgia do que é bom, as
gargalhadas provocadas pelas lembranças da infância e das adolescentes que
fomos, as histórias em família que arrancam de nós as melhores impressões de
que a vida pode continuar cheia de cores e sonhos.
Logo espero ver meu avô, que estava num sítio mais distante, e espero que ele recite um cordel, aos 98 anos de idade e em plena lucidez, e continue nos inspirando, fazendo-nos acreditar que a vida pode ser mais leve e melhor, sempre.
Com o coração submerso em gratidão,
#2 Andréa Cerqueira
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kkkkkk, lembro das minhas respostas nestes cadernos. Simplesmente, nada aconteceu da maneira que previ, porém sei que fui lapidada por Papai da maneira mais sublime através das minhas experiências de vida.
ResponderExcluirViva a dialética do amor de DEUS!