Os líderes evangélicos que compuseram o catecismo curto de Westminster corretamente afirmaram que a finalidade do homem é glorificar a Deus. Nossos alvos na edificação da igreja não devem fugir a este mesmo propósito.
Parece que a maioria dos evangélicos pensa que uma igreja grande, com centenas ou milhares de membros, exalta a Deus mais do que um grupo de igrejas pequenas que congregam o mesmo número de crentes em garagens, salas e outros locais, apropriados ou não.
Belos templos construídos como monumentos, ao bom gosto dos seus membros afluentes, são sinais de sucesso. Qual é o pastor que não aprecia o privilégio de liderar um povo bem organizado, dispondo de excelentes equipamentos, secretárias e um orçamento que facilita o pagamento de belos salários aos obreiros; de abrir novas congregações e poder sustentar missionários e obras sociais. Uma igreja grande tem muitas opções e liberdade para agir porque mobiliza muitas pessoas. Igrejas pequenas parecem insignificantes e restritas.
Mas há cristãos que se sentem incomodados com o tipo da igreja que se assemelha a uma empresa bem organizada e eficiente. Alguns acham especialmente difícil responder à pergunta chave: como era a igreja do Novo Testamento em relação a de nosso ideal moderno? Evidentemente, os cristãos primitivos, não construíram suntuosos templos com bancos confortáveis para acomodar centenas de membros. Mesmo assim essas igrejas pequenas cresciam, persuadiam, treinavam informalmente seus membros.
Podemos detectar várias motivos porque as igrejas primitivas cresceram, sem mencionar o poder indispensável do Espírito Santo ( At 1.8 ):
PRIMEIRO: O primeiro elemento chave foi a naturalidade com que os primeiros adaptaram os lares para substituir a sinagoga como local predileto para os cultos. "Partiam pão de casa em casa" (At 2.46) pode ser uma referência às reuniões de fraternidade (ágape) junto com a Ceia do Senhor (1 Co 11.17-34). Oscar Cullmann, renomado estudioso do Novo Testamento, pensa que toda reunião das igrejas primitivas celebravam a Ceia como parte do culto.
SEGUNDO: As reuniões permitiam muita informalidade. "Quando vos reunis, um tem salmo, outro doutrina, este traz revelação, aquele outro, língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para edificação " (1Co 14.26). Participação como esta tem a vantagem de envolver os membros da igreja, o que dificilmente ocorre em igrejas grandes cheias de espectadores.
TERCEIRO: O convite para incrédulos entrar na casa para observar os procedimentos da reunião também tinha o seu lado positivo. Paulo recomendou aos membros, profetizar, para convencerem os não convertidos, manifestando os segredos dos seus corações. Isso deve trazer arrependimento e adoração (1 Co 14.24,25). Nas reuniões pequenas do primeiro século se evangelizava ainda que este não fosse o propósito do culto. Integração, dentro da comunidade, foi algo fácil e natural. Dr. Michael Green considera a evangelização nas casas um dos métodos mais importantes dos primeiros séculos. As vantagens são óbvias, tais como, a facilidade da troca de idéias, não isolar o líder ou pregador, dos ouvintes, o convívio da hospitalidade na hora de comerem juntos, a atmosfera descontraída, a possibilidade de responder perguntas e a criação de pressão suave pela amizade (Evangelização na Igreja Primitiva, Ed. Vida Nova, 1984, p. 252). Nos lares, a conversão dos maridos, mulheres e crianças se torna mais natural (Paulo reconhece esse fato em 1 Co 7.14 em 1 Pe 3.1).
QUARTO: As reuniões de poucas pessoas facilitavam o desenvolvimento de comunhão (koinonia) mais estreita e íntima do que ajuntamentos de grandes números de pessoas. Todas as exortações mútuas, que os crentes primitivos foram encorajados a receber e praticar, mostram claramente que somente em grupos pequenos era possível cuidarem uns dos outros.
QUINTO: Somente em grupo reduzido pode se esperar uma preocupação mais genuína com os desviados e problemáticos. Como podia Paulo ter se preocupado entre o desentendimento entre Evódia e Síntique se a Igreja de Filipos tivesse mil membros? (cf. Fp 4.2). Só é possível saber o que realmente está acontecendo em toda a igreja quando o número de membros é pequeno.
SEXTO: A diversidade dos tipos de reuniões que se realizavam no período do Novo Testamento, mostram a eficiência na criação de vínculos de amizade e comunhão. No Novo Testamento encontramos reuniões de: oração (At. 12.12); de comunhão (21.7); de celebração da Ceia (2.46); de culto e ensino (20.7); evangelísticas (16.32); para ouvir e apresentar as Boas Novas (10.22); para responder perguntas (18.26); um ensino mais formal (5.42) e para debate ( 28.17,18 ). Paulo ao revelar que além de um ministério público, ele admoestava "a cada um com lágrimas", de casa em casa (At 20.20,31), mostra o equilíbrio entre a proclamação do evangelho, para os pagãos, e o discipulado individual e em pequenos grupos.
ALGUMAS IMPLICAÇÕES
Parece que vantagens poderiam ser aproveitadas se as igrejas que idealizam templos grandes e organizações eficientes incorporassem nos seus planos, grupos menores, que refletem a natureza das igrejas do Novo Testamento. Não é uma maldição crescer numericamente até o ponto em que nem o pastor conhece pessoalmente todos os membros de sua igreja. Por outro lado, não pode ser vontade de Deus que os membros não tenham alguns irmãos que os conheçam bem. Somente assim pode-se cumprir a ordem bíblica, "...Exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se chama Hoje, afim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado" (Hb 3.13).
Em grupos menores torna-se possível orar participativamente. Os pedidos e respostas podem ser compartilhadas para o louvor do Senhor que o ouviu e respondeu.
Em reuniões nos lares pode-se saber dos problemas mais profundos que os irmãos passam sem o constrangimento natural que há em reuniões numerosas na igreja.
Em reuniões menores há necessariamente a participação maior de líderes em potencial. Podemos ter certeza que em igrejas que restringem sua vida comunitária aos templos grandes deixarão passar desapercebidos muitos irmãos que tem dons e talentos enterrados.
CONCLUSÃO
A glória de Deus é a finalidade da igreja e todos os seus ministérios. Devemos continuar a dialogar e buscar nas páginas das Escrituras qual é a estrutura mais prática para alcançar os objetivos que a Palavra nos revela.
Russell Philip Shedd
(*) grifos nossos
muito bom
ResponderExcluirEu sou uma destas pessoas que não gosta de igrejas com um grande número de membros porque perdemos realmente a essência do relacionar-se. Prefiro uma igreja pequena, mas que vai se renovando. Como? Entram membros, absorvem conhecimento e experiências, e depois ganham um mundo para explorar e levar o Deus desconhecido até elas. E chegam novos membros para passarem pela mesma situação.
ResponderExcluirEste é meu sonho.