terça-feira, outubro 04, 2011

Aprendiz de mim: quando dói


Dores que me laceraram, dores que me marcaram, dores que me custaram, dores que me ensinaram.
A dor tem sua função em nosso funcionamento orgânico regular, se um músculo dói, se a cabeça dói é sinal de que algo não está funcionando plenamente. É preciso parar, investigar, e descobrir a raiz da dor para que possa ser providenciada a cura.
Nossa alma por vezes dói e as dores são profundas e variadas, algumas mais intensas, outras mais amenas, mas é preciso aprender a lidar com as mesmas, investigá-las para quem sabe assim podermos curá-las.
Bom seria não ter que aprender de nossas dores, bom seria não descobrir que elas existem...por muitas vezes é assim que penso e sinto. Mas se afirmam que é saudável  o corpo manifestar dor, talvez seja sinal de saúde a alma também gritar suas dores.
Quais são os nomes das dores de minha alma?
A dor de meu corpo lembra-me de que sou humana. O mesmo acontece à dor de minha alma. Ela grita em seu silêncio minha humanidade doída e por vezes combalida. Ela expressa aquilo que por vezes não quero enxergar, ela me faz sentir aquilo que eu escolheria anestesiar. Ela intensifica-se à medida em que é preciso parar e então tratar o mal que lá dentro dela há.
Não gosto da dor, não acho que tenha muitas resistências à mesma. Sofro, choro, imploro para que a mesma suma, mas dia após dia ela lá está. Eu tento ignorar, eu tento disfarçar, eu tento de tudo, e por vezes a nada ela reage.
Posso mudar de cenários, companhias, cores, sabores, estações, horários...ela não muda. Há dores que mudam, mas há dores imutáveis, que se presentificam, se alastram, se agarram às nossas paredes interiores. São como teias que nos envolvem, que tentam escurecer recônditos de beleza em nosso ser.
A dor pode ser um bom sinal, mas ela não é boa. Ela deixa cicatrizes nas feridas que abre, sim, a dor nos faz sangrar, às vezes a hemorragia é lenta, é um leve mas contínuo gotejar que vai levando nossa vida, nosso colorido, nossa força. Há vezes em que o buraco que se abre é enorme e então o sangue jorra.
Mas eu não posso fugir da dor, eu posso trabalhar ou esperar que a cura venha e então me despedir dela. Até lá, terei que conviver com a mesma. Conviver com a dor. É estranha essa “con-vivência”. Gostaria tanto de ter ao meu redor apenas aquilo que me faz bem, que me gera vida, que me impulsiona, me alimenta, me injeta ânimo. Entretanto, não é assim no mundo que piso lá fora todos os dias e em meu interior, a experiência se repete. Convivo com o que gosto e com o que não gosto. Com o que me faz bem e com o que me faz mal. Com o que me tranquiliza e com o que me paralisa de terror. Apesar de ser o “MEU” interior, há coisas que lá se infiltram vindo do exterior e o trabalho de limpeza, restauração e cura é por vezes lento e demorado demais, então acontece a convivência com aquilo que me desagrada, mas que também faz parte de mim.
Paradoxo... heterodoxo. Transformações de paisagens interiores. Tenho que aprender a compor a paisagem secreta com o belo e o feio, o familiar e o estranho, a dor e a cura.
Não queria dizer que as dores são minhas. Quem em são juízo adquire dores? Quem as quer por companhia ou parte da moradia? Mas ainda que tente negá-las e rejeitar-lhes a propriedade, a grande verdade é que elas são minhas dores. Só minhas. Unicamente minhas. Causadas pelos mais variados dissabores, elas chegaram, muitas vezes nem sei como adentraram, mas hoje me falam claramente que são minhas.
Lembro-me do Mestre Jesus, o meu querido amigo e amado. Com Ele e apenas Ele posso realmente chorar minhas dores, só a Ele confio a dor do meu coração. Eu sei que Ele sabe olhar sem julgar. Eu  sei que Ele as sabe uma a uma localizar e retirar, sem no entanto me matar.
Ele foi descrito como homem de dores, que sabia o que era padecer e que aprendeu por meio das coisas que sofreu. Isso me consola. Meu mestre foi aprendiz de suas dores e como discípula Dele não posso furtar-me à mesma experiência.
É querido Jesus, as dores realmente aparecem, algumas vem na infância, quando nem entendemos muito de nada, outras vem ao longo da caminhada, umas passam depressa, outras já vem sem pressa de passar.
Mas se tu, Jesus, podes aprender com tuas dores. Aprendo que também posso aprender com as minhas e de fato é isto que tem acontecido.
Tenho aprendido, por exemplo, que por maior que seja a dor, que por pior que seja o seu sabor, uma hora ela irá terminar.
A dor já não terá mais seu lugar na sala de estar de nossa existência. Ela terá sido superada, porque já não veremos em parte, mas face a face. Agora somos meninos e meninas aprendizes, com olhares e gestos curiosos, com impulsos que por vezes nos fazem transitar por lugares perigosos, com medo das sombras e do escuro, com curiosidade pelo inusitado, propensos às armadilhas e quedas da vida. Cheios de tombos para levar, de dores que vem e vão nos marcar.


E doer muitas vezes vai ser preciso, porque viver é preciso.

Aprendendo com minhas dores,

4 comentários:

  1. Meninas só encontrei vocês hoje, e muito gostei.
    Estou recomendando vocês no meu blog.
    Aguardo uma visita (e leitura) de vocês em
    MINHAS LETRAS.

    Beijo, abraço, sorriso e poesia.

    thaisottesen.blogspot.com

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  2. (...)As dores... umas passam depressa, outras já vem sem pressa de passar.(Roberta)
    Minha amada vovó neném sempre dizia: “ É sempre bom ter um cafezinho na garrafa” ... E o que isso tem a ver com dor? bom, todas as palavras de minha vó sempre soaram como ensinamento e quando ela falava sobre café logo eu lembrava de visitas. E o que é a dor se não uma visitante? a dor é necessária,à recebo sempre com um cafezinho (CONFIANÇA) para aceitar o ensino. AHHH! ROBERTA grande, amada menina Roberta, se algum dia eu encontra uma palavra que expresse toda essa satisfação que sinto cada vez que leio algo teu aqui, prontamente dedicarei a ti.

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  3. Que lindeza de mensagem meu Deus. Quase chorei, porque tocou minha alma, que anda dolorida.
    Deus abençoe Roberta #sualinda

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  4. Thais,

    Seja bem vinda...já fui lá espiar seu cantinho lindo!

    Isa,

    Seu comentário acrescentou tanto...

    >>>> a dor é necessária,à recebo sempre com um cafezinho (CONFIANÇA) para aceitar o ensino -> prometo me lembrar disso sempre a partir de hoje!!! Obrigada querida e imurchável flore!

    Elisângela,

    Alma dolorida é alma viva, não esquece disso #sualinda [rs]

    Bjs preciosas do Pai!

    =)

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