Todos que conheciam a vida e o trabalho de Brennan Manning lamentam, 
ainda, sua morte tão recente. Uno-me a todos; anteontem publiquei, aqui,
 o necrológio (elogio fúnebre) desse precioso companheiro de caminhada. 
Nunca o conheci pessoalmente, nunca "caminhamos" juntos, mas sem dúvida 
trilhamos o mesmo percurso, procurando ser seguidores de Jesus.
 
 Algo me incomoda, no entanto. Não pude checar em todos os livros de 
Manning publicados no Brasil (não tenho todos), mas aqueles que 
examinei, bem como os sites evangélicos que vi acerca de sua morte, 
confirmam minha suspeita. Ninguém se refere à pertença de Manning à 
Igreja católica.
 
 Conhecendo bem o mundo evangélico, do qual 
faço parte, imagino o porquê. Manning é publicado no Brasil pela editora
 Mundo Cristão; provavelmente seus editores temiam, e temem, que a 
revelação da pertença confessional de Manning pudesse ter um efeito 
negativo sobre a recepção de sua obra. Em outras palavras, temiam que 
muitos evangélicos não o fossem ler, se soubessem que era 
católico-romano.
 
 Infelizmente devo concordar com esses 
editores. Muitos, sabendo disso, não o leriam mesmo. Registro isso com 
tristeza, porque ao longo dos últimos dez anos aprendi muito no diálogo 
com meus irmãos de confissão católica. Vejo-os, hoje, como seguidores 
comigo do mesmo Cristo; temos tradições diferentes, mas concordamos 
plenamente naquilo que constitui o coração de nossa fé.
 
 Seria 
lamentável que as pessoas perdessem o acesso ao pensamento de Brennan 
Manning por saberem que ele era católico-romano. Todavia, tão lamentável
 quanto isso é saber que, apesar dos ventos favoráveis ao diálogo e à 
aproximação ecumênica soprarem há décadas, ainda há evangélicos capazes 
de se orientarem por atitudes preconceituosas contra os cristãos de 
confissão católica.
 
 Não sublinho a pertença confessional de 
Manning por razões de controvérsia. Alguns me lerão com o seguinte 
pensamento: "Pra que frisar isso? O que importa é que seguimos todos a 
Jesus". Sim, é verdade. Mas, para o diálogo acontecer, importa muito 
saber quem somos. O diálogo ecumênico não significa a fusão de todos num
 único organismo, mas o respeito à diversidade possível de expressões da
 fé cristã. Para isso, para que possamos respeitar o outro cujas 
tradições não são as minhas, preciso primeiramente me conhecer, saber 
quem sou, ter certeza quanto às minhas próprias tradições e convicções. A
 partir daí, posso me aproximar do outro, ouvi-lo, aprender com ele. 
"Respeito" é, por assim dizer, o ambiente no qual ocorre esse tipo de 
aproximação.
 
 Faço questão de sublinhar que Manning era 
católico, não por qualquer espírito faccioso (acho tão deplorável a 
frase "Sou católico graças a Deus" como acharia a frase "Sou evangélico 
graças a Deus", se elas partem de uma perspectiva sectária), mas porque 
esse era Manning. Nós somos nossa própria história e, se nos negam essa 
história, se ela é eliminada, uma parte de nós se perde. Manning era 
católico-romano e, a partir dessa legítima tradição da fé cristã, numa 
atitude de constante oferecimento de si ao Mestre, ele construiu uma 
trajetória que nos iluminou e nos iluminará para sempre.
 
 
Editoras evangélicas, sites da Internet, admiradores de Brennan Manning:
 tenham a coragem de fazer referência à pertença confessional dele. Com 
essa atitude vocês não estimularão o sectarismo; ao contrário, 
estimularão o diálogo e, como consequência, a cura das feridas do corpo 
de Cristo.
 
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