domingo, abril 21, 2013

Ainda sobre Brennan Manning



Todos que conheciam a vida e o trabalho de Brennan Manning lamentam, ainda, sua morte tão recente. Uno-me a todos; anteontem publiquei, aqui, o necrológio (elogio fúnebre) desse precioso companheiro de caminhada. Nunca o conheci pessoalmente, nunca "caminhamos" juntos, mas sem dúvida trilhamos o mesmo percurso, procurando ser seguidores de Jesus.

Algo me incomoda, no entanto. Não pude checar em todos os livros de Manning publicados no Brasil (não tenho todos), mas aqueles que examinei, bem como os sites evangélicos que vi acerca de sua morte, confirmam minha suspeita. Ninguém se refere à pertença de Manning à Igreja católica.

Conhecendo bem o mundo evangélico, do qual faço parte, imagino o porquê. Manning é publicado no Brasil pela editora Mundo Cristão; provavelmente seus editores temiam, e temem, que a revelação da pertença confessional de Manning pudesse ter um efeito negativo sobre a recepção de sua obra. Em outras palavras, temiam que muitos evangélicos não o fossem ler, se soubessem que era católico-romano.

Infelizmente devo concordar com esses editores. Muitos, sabendo disso, não o leriam mesmo. Registro isso com tristeza, porque ao longo dos últimos dez anos aprendi muito no diálogo com meus irmãos de confissão católica. Vejo-os, hoje, como seguidores comigo do mesmo Cristo; temos tradições diferentes, mas concordamos plenamente naquilo que constitui o coração de nossa fé.

Seria lamentável que as pessoas perdessem o acesso ao pensamento de Brennan Manning por saberem que ele era católico-romano. Todavia, tão lamentável quanto isso é saber que, apesar dos ventos favoráveis ao diálogo e à aproximação ecumênica soprarem há décadas, ainda há evangélicos capazes de se orientarem por atitudes preconceituosas contra os cristãos de confissão católica.

Não sublinho a pertença confessional de Manning por razões de controvérsia. Alguns me lerão com o seguinte pensamento: "Pra que frisar isso? O que importa é que seguimos todos a Jesus". Sim, é verdade. Mas, para o diálogo acontecer, importa muito saber quem somos. O diálogo ecumênico não significa a fusão de todos num único organismo, mas o respeito à diversidade possível de expressões da fé cristã. Para isso, para que possamos respeitar o outro cujas tradições não são as minhas, preciso primeiramente me conhecer, saber quem sou, ter certeza quanto às minhas próprias tradições e convicções. A partir daí, posso me aproximar do outro, ouvi-lo, aprender com ele. "Respeito" é, por assim dizer, o ambiente no qual ocorre esse tipo de aproximação.

Faço questão de sublinhar que Manning era católico, não por qualquer espírito faccioso (acho tão deplorável a frase "Sou católico graças a Deus" como acharia a frase "Sou evangélico graças a Deus", se elas partem de uma perspectiva sectária), mas porque esse era Manning. Nós somos nossa própria história e, se nos negam essa história, se ela é eliminada, uma parte de nós se perde. Manning era católico-romano e, a partir dessa legítima tradição da fé cristã, numa atitude de constante oferecimento de si ao Mestre, ele construiu uma trajetória que nos iluminou e nos iluminará para sempre.

Editoras evangélicas, sites da Internet, admiradores de Brennan Manning: tenham a coragem de fazer referência à pertença confessional dele. Com essa atitude vocês não estimularão o sectarismo; ao contrário, estimularão o diálogo e, como consequência, a cura das feridas do corpo de Cristo.

  Por Rui Luis Rodrigues no Facebook

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