Troque suas folhas, mantenha suas raízes.

"Mude suas opiniões, mantenha seus princípios. Troque suas folhas, mantenha suas raízes."

Victor Hugo

Escrever me aquieta e eu amo isso. No decorrer dos dias, sou desafiada a refletir sobre muitas coisas e por vezes eu as “concluo” assim, escrevendo a respeito. Escrevi “concluo” entre aspas, porque tenho aprendido algo importante: eu mudo de opinião com o passar dos meus dias. Assim, praticamente nada do que eu tenha como certeza hoje permanecerá para sempre num estado imutável dentro dos meus conceitos, exceto quando se trata de algum princípio, uma verdade da Palavra, todo o restante está sujeito a mudar. Porque eu mudo também.

Um exemplo disso: Já fiz estudos e escrevi contra o crente fazer tatuagem e colocar piercing. Na época, meus textos causaram a ira de muitas pessoas e aplausos de outras. Lembro-me bem de alguns e-mails que algumas pessoas indignadas me enviaram, a maioria me acusava de ser tendenciosa e legalista. Pior é que essas pessoas, se não estavam 99% certas, estavam 100% certas! Eu enxergava a vida e o caminhar com Deus de uma outra forma e muita coisa mudou de lá para cá. Quando olhava para a vida, quando refletia sobre algumas questões (como essa de tatuagem e piercing), eu usava os “óculos” da teologia na qual fui ensinada. Era através daquelas lentes que o mundo ganhava a forma como eu o enxergava.

Por muito tempo eu aprendi que a Salvação que Cristo ofereceu-me na cruz é a absoluta expressão da GRAÇA de Deus. Aprendi que tudo vem dele e é para ele. Aprendi que foi ele quem se movimentou ao meu encontro e por isso fui alcançada por seu amor. Mas, em contrapartida, aprendi que uma vez que você seja alcançado pela graça de Deus, você deve manter a sua salvação, todos os dias. É aquele lance de correr a corrida que nos foi proposta e perseverar até a linha de chegada (salvação). E tudo bem quando tudo está no lugar, quando você está numa fase de passos firmes e cada vez mais convictos em Cristo. Mas há pouco proveito disso quando as tempestades aparecem, quando surgem as dúvidas, quando os desafios mostram os dentes para a tua fé e gritam: e aí, vai encarar?!

Nos últimos dois anos da minha caminhada tenho aprendido duas coisas fundamentais: a primeira delas é que eu enxergo agora muitos dos meus paradigmas. Sim, sou cheia deles. A segunda é que preciso estar disposta a aprender ou reaprender sempre, ainda que seja necessário começar tudo outra vez. Iniciamos mais uma mudança de estação – entramos no Outono, mas como vivemos num país tropical as estações nem sempre são bem definidas para todos. Moro no interior do estado de São Paulo e sei bem que, por mais que eu goste do frio, desfruto bem menos dele do que gostaria, pois a região onde vivo é bem quente. Ainda assim, eu procuro perceber cada estação e desfrutar de todas elas. Talvez as mudanças internas sejam assim também, nem sempre tão definidas, talvez precisemos de vários outonos para que elas sejam notórias em nós. O importante é que uma hora ou outra elas mostrarão sua face e brilharão como luz a iluminar o caminho. O caminhar pode ser surpreendentemente mais leve quando nos permitimos que nossas folhas sejam trocadas, ainda que nossas raízes estejam preservadas. Caminhar e viver o Caminho, não apenas passar por ele. Isso me parece muito bom, não?

Caminhando,

Andréa

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