Há certas lutas na vida as quais não estamos previamente preparados para entrar, e por isso mesmo, não há manuais prontos de como enfrentá-las.
Sei que os parâmetros do que seja 'lutar pela vida', são amplos, por exemplo:
Poucas coisas na vida são comparáveis a luta contra uma doença, algo que envolve muitas vezes um longo caminho de dor e expectativas nem sempre bem-sucedidas. Presenciei de perto algumas vezes essa batalha, e vendo a esperança muitas vezes despedaçar-se diante do que não está em nossas mãos. Ficou em alguns casos, o exemplo do sorriso no rosto até o último dia de visita no hospital, e a lembrança dos tempos de trabalho, festas e risadas de uma amiga que se foi. A marca em vida do riso largo foi presenciada até o ultimo momento. Acredito que a força que as pessoas nem sabem que têm, aparecem em momentos assim.
No dia que em que ela se foi, estava em uma viagem no litoral a trabalho e o telefone tocou. Depois da ligação, deixei-o no chão e sentei de frente pro mar, com a sensação de ver aquela imensidão de água como um sem fim de todas as ilusões e convicções que tinha até então. Pensei naquele momento vazio, num misto de revolta e incompreensão:
- Porque pessoas que faziam tantas maldades estavam debaixo do mesmo sol e tinham uma vida boa e regalada? Elas pareciam nunca adoecer, nunca passar por problemas financeiros e nem dor.
- Meu Deus - chorei baixinho - que mundo é esse? Essa pergunta ainda faço diante de determinadas situações e pessoas que passaram por minha vida.
Talvez meus problemas não pudessem ser comparados a devastação desse momento passado, mas as dores de alma, muitas vezes se comparadas ao sofrimento físico, o do corpo, são tanto ou mais devastadoras que este, inclusive causando-o.
Não compreendo porque as pessoas machucam umas as outras deliberadamente, quando tem a escolha de não fazê-lo. Não compreendo a gratuidade desses atos, de que muitos se valem da boa-fé alheia para roubar-lhe muito mais do que valor monetário: levam-lhe a alma e saem como se não houvesse amanhã. Difícil entender isso de subjugar o outro, de achar que agrega quando se está na verdade subtraindo, de amealhar sofrimento e despedaçar sonhos.
Eu preciso digerir estas coisas, às vezes penso, eu preciso superar. Às vezes finjo que não me afeta, que não me constrange, não me ameaça, não me faz querer fugir. Sei que preciso saltar os limites impostos pela minha natureza humana, preciso prosseguir ainda que tenha vontade de sentar no chão tal qual o distante verão de outras dores. Mas penso então no oposto, a outra face da moeda. Quem disse que não causei os mesmos sofrimentos a outrem e nem percebi que à beira de uma guerra alguém chorava ferido pelas minhas flechas envenenadas de maldade?
Eu não sou boa, ninguém de fato é plenamente, 'somos quem podemos ser'. Ainda sigo sem entender porque 'os bons morrem jovens' e a maldade se propaga numa velocidade incrível, enquanto o bem goteja aos poucos sobre a Terra. Talvez um dia entenda isso tudo, um dia, quem sabe...
Elidia Rosa é uma querida amiga do mundo virtual, suas postagens sempre muito atuais e edificantes ...
Elidia, viajei nessas palavras. Também não entendo certas situações que vivencio. Também chorei com perdas principalmente a de meu pai e Deus sabe o quanto foi difícil para mim ouvir da enfermeira que eu tinha 15 minutos, apenas 15 minutos para me despedir. A ultima vez que o vi, chorar já não era possível a dor pedia mais. Lembro-me agora dos amigos queridos que decidiram partir . Vir aqui sempre me renova e me faz entender que não sou nenhuma heroína também imponho 15 minutos finais, parto sem explicações e quer saber somos todos imperfeitos e incompletos...
ResponderExcluir(Sei que preciso saltar os limites impostos pela minha natureza humana)sabias palavras... Precisamos sim querida, precisamos lutar contra nossa própria alma, saltarmos esses limites para finalmente descansarmos satisfeitos.
Somos quem podemos ser, mas um dia seremos como Ele (cristo)quer que sejamos. bjimmmm