quarta-feira, abril 18, 2012

Mais que uma prece...




Em instantes que não agendam antecipadamente o impacto que irão causar em mim, surpreendendo-me, fico cativa de algo que leio ou ouço. Numa tentativa de ilustrar o acontecimento, costumo dizer: “essas palavras estão passando por mim e reverberando, movimento minhas células”.

Aconteceu outro dia com um poema do Fernando Pessoa que eu já havia lido há tempos atrás, mas não sei explicar por que é que agora ele me impactou tão profundamente. Senti-me desestruturada, comovida e covarde. Sim, covarde. Depois de ler “Prece” uma vez e refletir sobre cada frase, quase pude ouvir o Eterno me convidando a não apenas ler “Prece” uma segunda vez, mas a declarar em confissão tal oração.

Acovardei-me. Senti-me grave, inquieta, temerosa.

Li novamente, chorei. Li por alguns dias...

Até que, arrependida e consciente do quanto sou falha e careço da misericórdia de Deus, me atrevi a pegar emprestadas as palavras do poeta e a confessar:

Prece

Senhor, que és o céu e a terra, que és a vida e a morte!
O sol és tu e a lua és tu e o vento és tu!
Tu és os nossos corpos e as nossas almas e o nosso amor és tu também.
Onde nada está tu habitas e onde tudo está - (o teu templo) - eis o teu corpo.

Dá-me alma para te servir e alma para te amar. Dá-me vista para te ver sempre no céu e na terra, ouvidos para te ouvir no vento e no mar, e mãos para trabalhar em teu nome.

Torna-me puro como a água e alto como o céu. Que não haja lama nas estradas dos meus pensamentos nem folhas mortas nas lagoas dos meus propósitos. Faze com que eu saiba amar os outros como irmãos e servir-te como a um pai.

       [...]

Minha vida seja digna da tua presença. Meu corpo seja digno da terra, tua cama. Minha alma possa aparecer diante de ti como um filho que volta ao lar.

Torna-me grande como o Sol, para que eu te possa adorar em mim; e torna-me puro como a lua, para que eu te possa rezar em mim; e torna-me claro como o dia para que eu te possa ver sempre em mim e rezar-te e adorar-te.

Senhor, protege-me e ampara-me.
Dá-me que eu me sinta teu.
Senhor, livra-me de mim.

(Fernando Pessoa)


Caminhando,

#2 Andréa Cerqueira 

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