Dentre as datas comemorativas no
cristianismo, considero a Páscoa a mais impactante delas. Os três dias que
cercam esse momento são para mim um desafio, ano após ano. O maior desafio é
justamente o de permitir que o feito de Jesus Cristo na cruz do Calvário
continue a impactar a minha alma. E tenho consciência de que isso é obra do
próprio Deus, não minha. Não fosse isso, certamente a minha Páscoa se resumiria
em ovos de chocolate, dias de folga, comida e bebida na presença de familiares
e amigos. Mas não é assim, e sou muito grata a Deus por isso.
Páscoa para mim é como a Santa
Ceia, é o momento de recordar o sacrifício de Jesus com um pouco mais de
profundidade. É uma viagem no tempo, é reler o que tantas vezes já foi lido nas
Escrituras, é refletir e meditar nas palavras do Mestre e simplesmente aceitar
seu amor abnegado, irrestrito, escandalizador.
E entre sua morte e ressurreição,
eis que surge o que chamo de “sábado sem nome” ou “sábado do silêncio”. É o
tempo da pausa. Medito sobre os discípulos que foram testemunhas oculares do
ministério e da morte de Jesus. Não consigo mensurar o medo, o terror diante da
crueldade do que fizeram com o Mestre, a esperança se esvaindo em cada gota de
sangue derramada, passo a passo até o monte do Calvário e depois nas madeiras
daquela cruz. Afinal, não é ele o Messias prometido? O que está acontecendo
ali? Não é ele o Filho do Deus Altíssimo? Por que tanta crueldade? Por que
tanta humilhação? Por quê? No dia anterior Deus se encontrou morto numa cruz.
Deus foi sepultado sem as honras devidas ao morto, afinal a lei sabática não
permitia nenhum tipo de trabalho humano, nem mesmo o de honrar o seu Deus.
No sábado do silêncio não há
palavras que consolem, não há explicações, não há respostas contundentes que rebatam
os “por quês”. No sábado sem nome Deus está ausente. No sábado do silêncio,
Deus emudeceu. A noite escura da alma chegou à luz da alvorada, nos primeiros
minutos do novo dia. Durante a minha jornada de fé, sei que vou me deparar com
alguns sábados sem nome.
E é do silêncio e abatimento da
alma, da esperança esvaída, das manchas de sangue, do cheiro da morte que pode
brotar novamente a vida daquele que é Senhor sobre a morte, que é Soberano
sobre a eternidade e é Doador da Vida. “Derrubem este templo e em três dias eu
o reconstruirei”, ele mesmo disse. O sábado sem nome vai chegar ao fim, e aqueles
que creem e confiam no Eterno saberão primeiro em seu espírito: Ele vive! O
terceiro dia está por vir e não poderia ser mais apropriado: é Páscoa, é
livramento, é Salvação. E desta vez o Cordeiro sacrificado não só expiou os
pecados eternamente, mas sobrepujou o poder da morte, e esta não pôde contê-lo!
O sábado sem nome tem sua dor, sua
perplexidade, sua desesperança. Mas o sol nasce novamente para os maltrapilhos
do Deus Criador e traz consigo o raiar de um novo tempo: É Páscoa e Ele vive!
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#2 Andréa Cerqueira (@acspira)
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