Por: Rosana Braga
Somos os únicos seres vivos que se
comunicam por meio das palavras, da linguagem falada. Isso deve ter alguma
importância bastante relevante. Porém, infelizmente, muitas vezes temos
praticado esse dom –o da fala– de modo extremamente negligente, exagerado,
distorcido e equivocado.
Ditos populares sobre esse tema, além do essencial equilíbrio entre falar e
ouvir, existem vários: “Falar é prata, mas calar é ouro”, “Quem muito fala dá
bom dia a cavalo”, “Quem muito fala, muito terá de se justificar”, entre
outros. Um pensamento de que gosto muito é de Antoine de Saint-Exupéry: “A
linguagem é uma fonte de mal entendidos”.
Ou seja, parece que a sabedoria nos sugere mais silenciar do que falar. Como se
o silêncio fosse a forma mais inteligente de solucionar os conflitos. É verdade
que pode haver muita paz no silêncio, mas penso que é urgente aprendermos a
gigantesca diferença entre o silêncio que apazigua e pacifica, do silêncio que
ensurdece, grita, mente e perturba. Aliás, existem silêncios tão perturbadores
que podem enlouquecer um ser humano.
Acima de tudo, precisamos aprender a falar com um propósito. Não falar só para
jogar sobre o outro as nossas frustrações ou falar só para ofender e impor
razões e vontades. Não se trata de vociferar, mas de se expressar, de mostrar
ao outro quem somos e o que queremos. E no exercício diário do amor, estou cada
dia mais certa de que não pode haver modo mais eficiente de resolver conflitos,
aplacar a ansiedade e desfazer mal entendidos do que por meio do uso de uma
comunicação clara, direta e sem joguinhos.
Mas, lamentavelmente, por não saberem ou por medo e até covardia, muitas
pessoas adotam o silêncio como principal forma de comunicação. Calam-se para
“deixar bem claro” que estão bravas, tristes ou insatisfeitas. Recusam-se a
falar porque concluem que é óbvio o que está acontecendo e o que estão sentindo
e que, além disso, o outro já deveria saber. Há ainda os que prolongam a mudez
apostando que o tempo simplesmente resolverá as mágoas e as incertezas. Como se
sentimentos não precisassem ser elaborados e digeridos.
Não exagerei quando disse que o silêncio pode enlouquecer uma pessoa. Existimos
a partir da linguagem. Descobrimos que somos únicos e separados do outro a
partir do momento em que nascemos e por meio da linguagem, do que o outro diz
sobre nós, sobre como estamos no mundo e o que provocamos nelas. É assim que
nos constituímos, que nos reconhecemos e que nos criamos internamente. É assim
que se forma nossa autoimagem.
Claro que quanto mais amadurecemos, mais confiança ganha nossa própria voz,
nossas percepções e capacidade de compreender o que acontece fora e dentro de
nós. Mas o fato é que relacionar-se com alguém que não se mostra, que não
revela o que pensa, sente e quer, é altamente frustrante, desgastante e
deprimente. Não há troca verdadeira. Não há encontro de almas. Não há sintonia
possível!
Não falar é, muitas vezes, uma forma de torturar o outro, de fazê-lo padecer e
sentir a dor do inexplicável, do incompreensível, do imponderável. Sei que a
vida não nos dá garantias e que não existem certezas entre dois corações. Sei
também que não temos todas as respostas, mas quando podemos olhar para a pessoa
que amamos e sentir que no espaço, que separa uma alma da outra, existe uma voz
que acolhe, demonstra, abraça, acaricia e confessa o que ali pulsa e vibra, aí
sim, descobrimos o que é amor de verdade!
· Rosana Braga é
Palestrante, Jornalista, Consultora em Relacionamentos
e Autora dos livros "O PODER DA GENTILEZA" e "FAÇA O AMOR VALER
A PENA", entre outros.
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