Engraçado como descobrimos quem somos numa discussão a respeito daquilo que mais amamos.
Outro dia, eu estava com alguns amigos aqui, em casa, e começamos a falar sobre diversas coisas, inclusive sobre os sonhos que cada um guarda dentro de si.
-O que você gostaria MESMO de fazer, Lu? _perguntou um amigo.
Nem usei tempo pra pensar!
-Gostaria de ir para o continente africano. Lá, buscaria histórias, as escreveria e retornaria parte dos recursos para fundações que abrigam e alimentam pessoas que se encontram em situação de extrema fome e miséria.
A cara de espanto de um dos que estavam presentes me caiu como um susto.
-Você está maluca?! Lu, as pessoas precisam de Jesus. O que adianta irem para o inferno com a barriga cheia? Se eu fosse você, iria para alguns países falar de Jesus. Sabe como é, apresentar o Plano da Salvação para os perdidos.
Naquela hora, o assombro foi jogado em mim.
Até tinha me esquecido o quanto era chato conversar com alguns crentes!
Esperei um minuto para ver se aquilo era, ou não, uma brincadeira.
Infelizmente, não era.
Nem eu imaginava o tamanho da revolta que aquele comentário causaria.
Me revoltei! Discuti, briguei e disse que aquilo era... era... ridículo!!!
Pode falar que sou ruim, brava ou sei lá o quê, mas estou apenas contando o que eu fiz e o que senti no momento.
[Antes que alguém me pergunte, sim: a paciencia e a mansidao são coisas que ainda precisam ser trabalhadas em mim.]
Calma, que a história dessa 'conversa entre amigos' ainda não acabou!
Passou-se uma semana. E mais outra.
E decidimos que seria muito bom nos reunirmos para mais uma conversa.
Marcamos de nos encontrar às 8. Em uma sexta.
O 'ser' me pareceu estar agitado, sem muitas paciências.
Quando a conversa chegou ao ápice, onde as pessoas estavam falando coisas mais profundas sobre si mesmo, o tal X levantou e disse:
-Preciso comer! Mal consigo concentrar-me para ouvi-los!
-O que houve? _perguntei.
-Estou faminto!
-A quanto tempo está sem comer?
-Desde o almoço._o tal 'X' respondeu.
-Uau, quer ouvir sobre Jesus? Podemos te contar sobre o Grande Plano da Salvação. Que tal? Não é disso que realmente precisamos?
Na hora ele percebeu minha ironia.
Ok, sei que agi de modo vergonhoso e não incentivo a serem como eu. Mas era realmente aquilo que eu gostaria que ele pensasse: no quão incomodo é sermos privados das nossas necessidades mais básicas.
Essa coisa toda de ser 'espiritual demais', de pensar que somos apenas uma 'alma' e que precisamos somente de 'palavras consoladoras' e de 'direções espirituais', na minha humilde (e herege!) opinião, é uma das coisas mais medíocres que conheço!
Alguém, por favor, me diz: Onde esquecemos nossa humanidade?
Onde foi que abandonamos nossa preocupação com a justiça e o bem-estar das pessoas que nos cercam? Onde foi?!
Parece-me que em todo o tempo, Jesus preocupava-se em nos ensinar o quão importante é o fato de notarmos a necessidade do outro, e mais do que isso!, de nos movermos a fim de supri-las.
Sinceramente, não consigo imaginar um Deus que destrate nossas necessidades; assim como - também - não consigo imaginar, um Deus que se preocupe com nossas vaidades.
O fato de Deus dizer-se VERBO, me faz pensar que ele se preocupa (e muito!) com as nossas atitudes. Mais do que isso, Ele não é 'qualquer' verbo, é o verbo mais puro e bonito que existe: o Amor.
Amemos, mas amemos de fato: sem muitas palavras e muitas ações.
E se você acha que o mundo todo 'está bem' porque você tem alimentos na sua mesa e vestes no seu guarda roupas, te deixo como uma mensagem, um 'lembrete' singelo, um
proverbio africano que diz:
"Uma pessoa bem alimentada, dificilmente acredita que a outra está com fome."
Acredite, há muita gente faminta.
Tanto de alimento, quanto de amor.
Beijos,
Lu.