Você perdeu metade da vida!

Ouvi essa estória uma vez:

A Canoa

“Em um largo rio, de difícil travessia, havia um barqueiro que atravessava as pessoas de um lado para o outro numa espécie de canoa. Em uma das viagens, iam um advogado e uma professora. Como quem gosta muito de falar, o advogado inicia uma conversa e pergunta ao barqueiro:

- “Amigo, você entende de leis?” – “Não senhor” – responde o barqueiro.

E o advogado compadecido disse: - “É uma pena! Você perdeu metade da vida!” e suspira.

A professora, muito social, entrou então na conversa dizendo: - “Seu barqueiro, o senhor sabe ler e escrever?”, ao que o humilde remador respondeu: - “Também não, minha senhora”.

- “Que pena!” condói-se a mestra e completa: - “Você perdeu metade da vida!”, conclui.

Ambos os passageiros não sabiam bem quais assuntos deveriam compartilhar com aquele homem tão simples que, por intempéries da vida, sequer sabia ler e escrever e permaneceram em silêncio por uns minutos enquanto a canoa começava a atravessar o trecho mais turbulento do rio.

Agarrados firmemente na borda da canoa, os passageiros encaravam com temor a correnteza à frente. Então a turbulência aumentou e uma onda sacudiu a canoa desequilibrando os passageiros que, no tombo, viraram a embarcação. Em meio ao desespero, ambos esforçaram-se para agarrar em alguma parte da canoa virada, quando ouvem do barqueiro:

- “Vocês sabem nadar?!”

- “Não!!!” – responderam rapidamente o advogado e a professora.

- “Então é uma pena!” – diz o barqueiro – e conclui – “Vocês perderam toda a vida!”.

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“Não há saber mais ou menos. Há saberes diferentes.”

(Paulo Freire)

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Pensando sobre essa estória – da qual desconheço o nome do autor – e na frase de Paulo Freire, tenho certeza que é preciso que valorizemos todas as pessoas com as quais temos contato, pois cada uma delas tem algo diferente para acrescentar ao nosso conhecimento. Assim manteremos nossos corações humildes e nossas mentes abertas para o “novo”, para o “mais”. 

Imaginemos a cena da pescaria de Pedro com Jesus (livro de Lucas, capítulo 5):

Pedro poderia ter dito para Jesus: “Olha Mestre, nós entendemos de pescaria, pois é isso o que somos, pescadores. Essa é a nossa vida e sabemos que esse não é um bom lugar para pescar, também não é uma boa hora”, entre outros argumentos de um especialista no assunto. 

Ele poderia ter considerado que Jesus, sendo um carpinteiro e não um pescador, podia ser instruído na Lei, ser muito bom para pregar sermões, mas incapaz de entender de pescaria. Talvez Jesus nunca houvesse pescado na vida, afinal! Mas Pedro decidiu arriscar ao ouvir as palavras do Mestre. E sua decisão o fez viver uma nova experiência!

O resultado? A maior pesca de peixes que Pedro pôde fazer e então ele descobriu o maior propósito de Deus para sua vida: ser um pescador de homens – alguém que Deus usaria para agregar multidões aos que acreditavam em Cristo.

Para Deus, ninguém é desprezível. Cada um, conta.

E hoje? Essa semana está começando, qual será a experiência que vamos ter? Com quais pessoas iremos nos relacionar? Com quem iremos aprender? A quem vamos influenciar positivamente? Para quem seremos sal  e luz?

Que em todos os momentos estejamos preparados para lançar nossas redes, aprendendo cada vez mais a nos relacionar e a viver, não uma vida pela metade, mas uma vida plena.

No barco navegando pelo rio da existência, aprendendo com aquele que é a Vida!

Andréa Cerqueira