quarta-feira, março 23, 2011

O corpo quer, a alma entende?







Lembro-me de uma música da Legião Urbana em que Renato Russo exclama em um dos versos: “tenho os sentidos já dormentes. O corpo quer a alma entende.”

Será que essa congruência sempre existe? Basta o corpo querer para a alma se satisfazer?


É comum vermos pessoas que mal se conhecem se relacionando íntima e profundamente de forma física. Lembro-me que há não muito tempo atrás “ficar” significava beijar sem a intenção de namorar. Hoje a evolução, ou seria involução? Fizeram o “ficar” ficar bem mais profundo. Assim vemos corpos se encontrando, se tocando, se penetrando e depois um até breve ou um adeus. Nenhum compromisso, nenhum laço de afetividade ou afinidade. Uma profundidade física dissociada de uma profundidade pessoal.



Nada disso é novo, antigos filósofos já se dividiam entre os hedonistas, que achavam que o corpo estava completamente incomunicável com a alma e por isso, podia-se fazer o que quisesse com o mesmo. A grosso modo seria a expressão popular “lavou, tá novo”. Na contra-mão havia os estóicos,  que achavam que tudo o que vinha do corpo era mal e contaminava a alma e por isso os prazeres carnais deveriam ser negados.



Essa dicotomia continua presente em nossos dias,  e de forma ainda pior, pois se faz ausente o viés ideológico. Percebo que os tempos são sempre outros, mas a alma humana, o ser gente é atemporal e por isso é tão precioso ter em mãos um livro atemporal como a Bíblia para regra de fé e prática. Por mais que religiosos ou anti-religiosos queiram defender seus extremos, não vejo as Escrituras dissociando espírito, alma e corpo. Somos integrais e nossa integralidade atrelada à nossa consciência no Evangelho não nos furta de encarar a questão e buscar saber o momento em que o corpo quer e a alma entende, ou não.



É interessante que os versos começam falando que o poeta tem os sentidos já dormentes. Falando com toda a humanidade e sinceridade, se você já namorou e é um ser saudável, há momentos em que um simples beijo provoca sensações que fazem nosso coração acelerar, a pele arrepiar, o corpo todo esquentar, fazendo-nos sentir tão vivos a ponto de desmaiar. Desmaiar os sentidos, adormece-los, entorpece-los pelas carícias. Não é à toa que cantares 1:2 fala que o amor do amado é melhor do que o vinho e que o rei fica “embriagado” pelas carícias da amada. Isso é normal e é lindo, mas há um tempo e um local a ser vivido.


Todos os extremos são danosos. Querer viver a profundidade física sem que as almas realmente tenham se encontrado pode trazer muita confusão. E não falo do sexo apenas. O sexo seria o ápice, mas até um beijo dado em alguém que você nem sabe o nome pode trazer transtornos. Por mais que a maioria alegue que “não tem nada a ver”, creio que no mínimo está sendo dito que você mesmo e o próximo não são assim tão significantes e que tais carícias idem. Será que sua alma realmente entende essa opção feita por seu corpo?



Cuidado, cautela, equilíbrio. Somos gente sim, temos desejos? Claro que sim, os quais muitas vezes se agigantam, mas isso não exime a nenhum de nós através de justificativas como: “não consigo me segurar”, “sou homem, é diferente”, “é a idade em que estou”, “estava muito carente”. Enfim, os argumentos são muitos. Percebo nessa multiplicidade de desculpas muito auto-engano, bem como um orgulho disfarçado, como se a pessoa sutilmente declarasse: “sou fogoso(a) demais”, “ sou um (a) amante ardente”, não consigo viver sem “isso” na minha vida. Por mais que deseje só consigo pensar “naquilo”.

Não estou falando que o natural seja viver sem carícias e afins. É tão natural que Deus olhou para Adão, viu que não era bom que o mesmo estivesse só e lhe deu uma companhia. Mas somos gente, não somos bichos. Temos vontades, instintos, desejos, mas podemos controlá-los. Podemos nos elevar acima de nossa natureza, creio que é esse elevar-se que nos torna realmente dignos de sermos chamados “humanos”. Afinal de contas, por mais que alguns queiram crer no contrário, não se faz sexo apenas com um corpo. Faz-se sexo com um ser. E não tenho  o direito de fazer do corpo e do coração de quem quer que seja, antídoto para minhas carências e desejos.

É difícil conter impulsos que nos dão prazer? Obviamente que sim. Mas viver o físico dissociado do que vem da alma e do espírito é saber que  fatalmente se vivenciará “o corpo querendo e a alma NÃO entendendo”.



E o que o corpo e alma entendem então?



Creio que eles entendam de compromisso, respeito, responsabilidade, verdade. Entendem de um genuíno compartilhar de vida e de almas. Depois que essas etapas foram vencidas, a consequência dos corpos se acharem, das carícias acontecerem não serão um fim em si mesmo. Não tornarão o corpo do outro apenas um instrumento saciador de fomes e lacunas pessoais.


Podemos sentir quando um abraço ou um beijo é realmente sincero. O corpo simplesmente materializa a fala da alma. Ou contrariamente, citando Fernando Pessoa: “quem sente muito cala”, muitas vezes cala-se a voz, cala-se o gesto. Fica o longo olhar e apenas aquele olhar a alma entenderá.



Muitas vezes nossos sentidos podem estar dormentes não só por amores, como já citado anteriormente, mas por dores, decepções, desilusões, frustrações e então vem alguém e te abraça, te olha ou tão somente fica ali segurando tua mão em silêncio. Em horas assim é possível compreender que: “o corpo quer (a presença) e a alma entende.”


Como diz Caio F. Abreu: “um amigo me chamou para ajudá-lo a cuidar da dor dele. Guardei a minha no bolso. E fui.”

O corpo quis o encontro com o amigo, a alma compreendeu que era hora de adormecer as próprias dores e sair para cuidar dos ferimentos do companheiro.

Em muitos momentos o ouvido já não ama, meras palavras já não dizem nada ou quase nada. Quem precisa ouvir é o coração, que reconhece como presença aquilo que antes era ausência. Há momentos de travessia, em que espírito, alma e corpo se unem e no caso de um casal que celebra um casamento: se fundem.



Termino adaptando uma frase famosa de Charles Chaplin que ao se deparar com a revolução industrial que maquinificava as pessoas exortou: “não sois máquinas, homens é que sóis”. Eu vos digo: “não sois bichos, homens é que sóis”



Que possamos aprender os momentos do corpo querer, mas a alma não entender. Bem como onde o corpo vai querer e a alma estará ali a entender.


Em amor,

Roberta Lima











































5 comentários:

  1. Robertinha,

    texto excelente, mana!
    Um alerta sério!
    -
    Estou lendo o Caminho do Discípulo, Pr. Caio Fábio e ele fala sobre coisas que "matam para a morte", ou seja, práticas que vão gerando morte e vazio existencial.
    Essa prática de hoje em dia arrebenta com a alma de qualquer um que a ela se lance.
    E, como já li uma vez em algum lugar:

    "A alma é como um credor incompassivo. Podemos fazer saques dela, mas um dia ela reclamará!"

    Que este alerta possa falar ao coração de muitos, que haja muitos "cair em si", e que Deus nos guarde, a todas nós, de uma vida que não caminhe sempre em conformidade com o ensino de Jesus.


    Amo-te, mana,

    Carla.

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  2. Sou fã incondicional de vocês..Carlinha amo-te!uma benção para minha vida..e como tenho aprendido aqui..e colocado em prática, pois,o mais importante é viver aquilo que se aprende para vida e não para morte..
    Deus enriqueça vocês com mais inspiração dele para nós..eu diria o melhor blog para meninas do reino que existe.

    Shalom

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  3. Roberta, minha mana querida! Que texto!!!
    Uma bênção pra minha vida e com certeza para de muitos, seja menino ou menina, do reino ou não.

    O corpo pede com urgência por um prazer instantâneo, muitas vezes até impelido por carências da própria alma, mas a alma quer algo mais duradouro, eterno. Ceder ao desejo do corpo (como sempre somos tentados a fazer) pode trazer um "alívio" durante o ficar com alguém, mas depois o vazio que fica traz um peso enorme ao coração. Se o Espírito Santo nos acusa então, aí o peso é maior ainda.

    E nem precisa chegar ao sexo, às vezes só ficar com alguém pra dar uns beijos (e se sentir "vivo") te deixa com uma sensação de vazio também por ter sido superficial demais.

    O corpo grita por algo, mas só ficará plenamente satisfeito se a alma for também.

    Bjo! DTA.

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  4. Queridos,

    Precisos os comentários de vocês, me enriquecem e fortalecem muito.

    Bjs

    =)

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  5. perfeitooooooooo..........Parabéns Roberta........

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