Perguntaram por mim?
E o que disse?
Pode dizer.
Se nada sabem, diga que vou bem.
Diga que ainda sonho às vezes.
Que as bandeiras estão rasgadas, puídas, desbotadas, mas que ainda tremulam.
Que voltei lá na Vila esses dias, pra rever os amigos antigos.
Alguns se foram de lá, outros se foram daqui. Cansaram da terra. Eu continuo por aqui.
Diga que ainda acredito nas gentes. Nem um pouco menos. Um pouco mais talvez. Acredito mais em menos gente, mas acredito. Tem gente boa sim. Tem gente má também. Mas gente má dá conta de si.
Acredito em Deus. Oro, rezo, faço promessa. Acredito mais ainda. Se não fosse Deus… Não sei muito dele, mas acredito. Não é possível que as coisas sejam só isso aqui que vejo, que pego, que entendo. É mais que isso. Muito mais. Eu acho. E se não for, só de acreditar já vale.
Fala que comprei uma viola caipira. Mas que não sei mais tocar. Na verdade, nunca soube. Mas só de tê-la ali, me sinto feliz. A gente precisa de símbolos que nos remetam a algum lugar e que nos lembrem de capítulos bonitos, só por estarem ali, encostados n’algum lugar onde consigamos vê-los.
Diz que ainda ouço rock e música caipira, mas que aprendi a gostar de MPB. Que pra gostar, é só ouvir. No começo, dá um sono, mas depois vicia. Diz que ainda ouço Legião do mesmo jeito, ouvindo a letra como se tivesse conversando com o Renato Russo.
Fala que sorrio menos, mas também choro menos. Aprendi o valor das lágrimas. Elas só valem de vez em quando. Mas de vez em quando valem muito. Que se for pra desperdiçar, melhor desperdiçar risadas e esbanjar sorrisos. Que quando a vida endurece, a cara fecha, mas sempre vale guardar um sorriso, mesmo que lá pro fim.
Fala que reencontrei o Vinícius. Que amizade sincera pode congelar um tempo, mas é só requentar que fica boa. O Júnior também tá bem, correndo atrás da vida. Thiagão tá adulto, mas continua legal. Meu irmão dando aula em universidade, acredita?!
Diz que as crianças tão grandes. E que o tempo passa tão rápido. Mesmo. Foge feito vento da mão de quem tenta manipulá-lo. E por isso reclama atenção. Se não der, ele pune com um remorso de doer.
O tempo… Aprendi que o tempo só anda de ida. Que a gente passa tempo demais remoendo o tempo que já foi ou o tempo que ainda não é. E o único tempo que temos, o tempo de agora, se sente órfão da gente mesmo. E daí vai embora.
Mas fala que tô bem.
Que aprendi a namorar a Lua. Que ela é linda, mas não é fácil. Que às vezes brilha cheia, de ofuscar os olhos da gente. Às vezes míngua e suga até o que a gente não tem. Mas volta crescente até se fazer nova, lindamente nova.
Futebol? Continuo fanático, mas não aprendi a jogar. Insisto porque gosto, porque sou de insistir, porque a vida é insistir e insistir. Mas, melhorar, nada…
Diz que viajei por aí, mas que não sou de postar fotos. Que algumas memórias são para os olhos e para o coração. E só.
Fala pra me adicionarem no face, mas que estou esperando pra um café. Não bebo café, mas sei fazer. Café não é uma coisa literal. Café é uma ambiência. Tipo o facebook. Só tem sentido se nos levar ao encontro.
Fala que voltei a ler poesia e a escrever crônicas. Ninguém as lê. Pergunte se posso mandar algumas. Escrevo para mim, pra ler no futuro, pra lembrar como a vida estava, como eu a via, como a sentia. Talvez não leia nunca, mas escrever é tipo saborear uma porção de eternidade. É saber que um dia, mesmo sem estar aqui, isso pode parar nos olhos de alguém. Quiçá num coração. Pode parecer pretensioso, mas escrevo para, n’algum tempo, ser lido.
Diz tudo isso. Ou não diz nada.
Diga só que vou bem e que a vida é continuar.
Que às vezes é viver e em outras, sobreviver.
Mas é continuar, sempre.
Então diz que tô continuando…
Fabricio Cunha
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