No fundo, no fundo, somos todos aquela criança que se negou
a crescer. Apenas aprendemos a disfarçar. O mundo nos forçou a isso. Nós nos
descriançamos. Convenceram-nos que o recreio acabou. Como num pique-esconde,
escondemo-nos atrás de nossa profissão, do diploma universitário, da
religiosidade, e dos diversos papéis sociais que nos são atribuídos.
Mas sob todo este verniz, ela ainda está lá, à espera de
quem a encontre, perdida no labirinto dos nossos sentimentos.
Como toda criança, ela quer experimentar. Quer sentir novos
sabores, texturas, cheiros, sensações. Por mais crescida que seja, ela ainda
sonha ser um super-herói. Chega mesmo a acreditar que um dia vai surpreender
todo mundo e sair voando por aí.
Por onde anda, busca outra criança com quem possa brincar.
Mas todos parecem tão normais. Estão todos tão ocupados fingindo ser gente
grande... e fingem tão bem que convencem até a si mesmos. Mas lá no fundo...
são mesmo crianças... indefesas... curiosas... manhosas... às vezes
pirracentas.
Até que um dia encontramos alguém com a coragem de revelar
seu rosto infantil. Mas infelizmente, assim como nós, também tem que manter a
pose. Ninguém pode perceber que aquela criança está viva. Para todos os
efeitos, ela foi sacrificada no altar da vaidade. O culto à performance exige
isso. Todavia, ela está ali, vivíssima, procurando por outra criança para
brincar. Esperando um momento de distração dos adultos para extravasar sua
meninice. Nem que por um instante... mas um instante que traga a semente da eternidade.
Pelo jeito, estamos todos condenados a ser crianças para sempre. Se assim for,
o céu é um playground onde brincaremos por toda a eternidade.
O inferno é para os adultos. Para os que se levam a sério
demais. Para os que abusaram do próprio ser. Os que se negaram a ser crianças
para entrar no reino dos céus.
E aí... bora brincar?
Lido em: Hermes Fernandes
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