sexta-feira, março 04, 2011

E o que passou já passou...

Passado, todos nós o temos. A partir do momento de nosso nascimento, um passado já fica marcado em nossa existência....o passado da concepção, da vida intra-uterina e dos movimentos em prol da eclosão para o nascimento.

Vamos crescendo, nos desenvolvendo e quando crianças uma hora o leite materno se torna passado, depois as fraldas, o engatinhar, a mamadeira e assim sequencialmente vamos evoluindo.

Há o período da adolescência, mudanças drásticas, hormônios em ebulição, a despretensão da infância sendo deixada de lado, questionamentos, novas experiências, medos, conquistas, um novo mundo se descortina e as coisas de criança são histórias do passado.

Assim acontecerá na idade adulta, na velhice...sempre teremos um passado para nos lembrar. De início as lembranças são poucas, depois de uma longa caminhada o aumento é inevitável.

Há um princípio na história que nos diz que precisamos conhecer o passado para que não venhamos a cometer os mesmos erros no presente ou no futuro.
Lembranças, histórias, memórias, passado, não importa o nome que possamos dar, o fato é que todos nós temos momentos para guardar e lembrar.

E o que fazer quando o passado machuca? Como agir quando as lembranças nos ferem?

Sabemos que muitas pessoas tem a vida totalmente abalada por conta de traumas na sua infância. É o passado que se presentifica e assombra.

Muitos tenderão a eleger um algoz, outros tenderão a se culpar ferozmente.
A maneira como o passado pode nos afetar e a maneira como podemos lidar com isso é extensa e variadíssima. A grande questão, entretanto, é que todos terão que lidar com isso.

O que normalmente percebemos é que há pessoas que se tornam prisioneiras de seus passados. O tempo passou, mas algo permaneceu preso, escravizado, ou então há um movimento, mas um movimento no qual o caminhar é feito com excesso de bagagem, a pessoa transporta cargas, vai acompanhada de fantasmas.

Acredito que uma das melhores maneiras de lidarmos com os fatos e pessoas de nosso passado é crer que seja qual for a situação ou a pessoa que nos assombre, podemos e devemos extrair um denso e intenso aprendizado.

Muitos podem questionar nesse momento, argumentando que há situações em que é impossível aprender mas tão somente lamentar, entretanto, ouso discordar.

Como diz a famosa frase de Jean Paul Sartre:

“Não importa o que fizeram com você, importa o que você faz com aquilo que fizeram com você”

Talvez você tenha sido enganado, traído, roubado, caluniado, abusado, enfim, sabemos que a lista de maldades e abominações humanas é extensa.
Mas muitos hão de concordar que as pessoas que talvez  jamais deveriam ter adentrado suas vidas, são justamente aquelas que o Pai e a vida mais usam para nos ensinar e lapidar.

E a grande verdade é que não há como voltar ao passado, seja ele bom ou ruim. Além disso, há um caminho ainda a ser percorrido, há presente a ser transformado em passado, há futuro a ser transformado em presente. Há a sua história a ser protagonizada. Pessoas e fatos certamente se sucederão, a grande questão é ficarmos atentos e extrairmos o aprendizado necessário.

Talvez sua trajetória compreenda oportunidades perdidas que te fazem lamentar, amores que se deixaram pelo caminho ficar, pessoas que estão a ser perdoadas ou até você mesmo espere seu próprio perdão.

Como afirmado no início do texto, o passado é comum a todos. Se será lamentado ou bem lembrado ou ambas as opções não há como saber. A grande certeza é que já foi.

O que foi ruim, o que foi bom, agora apenas se foi.
Um dia, foi.
Como canta o Titãs “aquele trem já passou e se passou, passou...daqui pra melhor...FOI. A canção continua dizendo os seguintes versos: “Eu só quero saber do que pode dar certo, não tenho tempo a perder, só quero saber do que pode dar certo.”

E o que pode dar certo? Certamente é o que ainda está por vir, o que ainda não chegou ou aquilo que hoje temos em mãos.

Que estejamos esperando por dias melhores, melhores na dor, melhores no amor...assim como canta outra canção.

Ou como diz o profeta: “Eis que tenho um futuro de paz e não de mal, para lhes dar uma esperança e um futuro.”

Seja em forma de canções, de profecias, de exortações bíblicas, de poesias, o caminho é único: PROSSEGUIR.

Saber que é possível atravessar o oceano de dores e medos que um dia nos assolou é também animador. Lembro-me agora do filme “comer, rezar e amar” no qual a protagonista Liz Gilbert ao fim de uma jornada interior, escolhe a "sua palavra" e ela busca no italiano a expressão “atraversiamo” que nada mais é do que: “vamos atravessar”...que atravessemos, que O obedeçamos e migremos para o outro lado da margem, ainda que no meio do caminho nos sobrevenham tempestades, que nossa confiança esteja posta Nele que as acalma com um simples gesto e falar.

Que a única volta a ser permitida seja aquela que nos faz regressar para o bom caminho, aquela que nos tira da escravidão do passado, onde muitos de nós por vezes se exila.

Que possamos crer que é tempo de novo tempo. Que é chegada a hora de novo caminho no caminho. Que ainda existem coisas que nossos olhos não viram, nossos ouvidos não ouviram e nem jamais penetraram em nosso coração.[1 co 2:9]

É tempo de ter bom ânimo, ainda que em meio a bagunça e ao caos. A realidade do sofrimento é transitória, mas a promessa de que Ele enxugará de nossos olhos todas as lágrimas é ETERNA.

Nossa postura nos momentos de exílio, de prisões, revela muito de nosso caráter, percebemos isso claramente na vida de homens como José e Daniel.
No final haverá a fé, a esperança e o amor. O amor é o maior, mas a fé e a esperança também lá estarão.

Que sejam esses alguns dos ingredientes de nossas particulares jornadas. Mais do que olharmos nosso próprio umbigo, nossas presentes circunstâncias, mais do que sermos consumidos pela autocomiseração, que possamos ser consumidos pelo desejo de sonhar. Os sonhos alimentam a alma, aquecem o coração, muitas vezes nos dão nova impulsão. E certamente, não são mera fuga ou ilusão.

Se Nietzche afirmava que creria em um Deus que soubesse dançar. Sabemos que cremos em um Deus que nos ensina a sonhar.

Avante queridos. Os dias são difíceis para os sonhadores, certamente que sim.
O amor de muitos tem se esfriado, é notório que sim.
Os princípios das dores tem chegado, segundo alguns escatologistas, é evidente que sim.
Mas quem fez morada em nós é Aquele que é a fonte de toda esperança, de toda paz, de toda cura e de todo AMOR.

Ainda é possível erguer os olhos, respirar fundo e sonhar e não apenas sonhar, mas acreditar que o sonho pode se realizar.
O passado foi, o presente está em nossas mãos e o futuro nos espera. Será que esperamos o futuro ou apenas o tememos? Apenas o projetamos como repetição do passado e do presente?

Espero que o futuro nos encontre sorridentes, cheios de expectativas e sobretudo doces. Podemos escolher embrutecer, amargurar ou nos encolher. Podemos até mesmo escolher não olhar, não pensar, não querer, não sonhar...
Temos livre arbítrio.

Mas só aquele que se arriscar a sonhar, se arriscará também a realizar.
Que possamos nos libertar do peso extra, ser gratos pelas trajetórias ainda que tortuosas que vivenciamos e mais do que tudo que possamos ter um bom olhar  para a estrada que ainda nos resta percorrer. Que nossos olhos sejam bons, que nosso corpo tenha luz [Mateus 6:22] e que chegue o dia em que possamos cantar e contar que sonhar foi bom, mas viver é ainda melhor que sonhar.


Roberta Lima




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