Renato Russo certa vez cantou que andava distraído, impaciente e indeciso, confesso que não ando distraída, nem indecisa, mas a impaciência tem tomado conta do meu ser.
Impaciência com o preconceito, com a hipocrisia, com a indiferença, com a falta de pudor moral justamente por parte daqueles que dizem defender a moral.
Não creio que existe algo mais amoral do que a falta de amor. Do verdadeiro amor, daquele que só nos é transmitido eficazmente por Deus que em sua forma encarnada na terra foi chamado de homem de dores e que mesmo em meio as dores encontrou espaço para amar, acolher, estender a mão aos que não são, aos vis e desprezíveis como tão bem nos relata o apóstolo Paulo em sua carta aos Coríntios. É esse o amor de Deus: incompreensível, louco, que nos ama não “por causa de” , mas “apesar de “.
Lembro-me do texto que a Noh_Olive escreveu aqui no blog sobre sua imersão no universo homossexual [Minha imersão ao mundo gay] e que suscitou uma avalanche de críticas, unfollows e ataques velados (esse é normalmente o modus operandi dos religiosos beligerantes).
Enfim, muito tem sido dito e feito em relação à causa supra mencionada. É o Supremo Tribunal Federal que atropela a constituição, é juiz que atropela a o STF (tanto em decisões prós como contras). São homossexuais querendo recolonizar o mundo de forma homoafetiva. São religiosos querendo expurgar o mundo de tudo aquilo que foge ao padrão “divinamente existente”. Interessante que Deus não disse: Ide e expurgai os pecadores, os diferentes...A ordem do Mestre foi Ide e pregai e acima de tudo AMAI com o mesmo amor com que Ele nos amou – creio que expurgar é algo tirânico e passa ao largo do verdadeiro amor de Deus.
Mas antes que alguns leitores comecem a babar ferozmente em cima do monitor e me ameaçar de processos ou me xingar de “menina do reino das trevas”, isso para mim não é novo (tente outro xingamento “irmão”, demonstre o seu fervoroso “amor” pelo Senhor e o seu des-serviço ao Reino de forma mais criativa, pois dessas imprecações já me cansei).
Quero ressaltar e agora usarei letras garrafais que NÃO ESTOU AQUI PARA FAZER APOLOGIA A UMA HOMOCRACIA! TAMBÉM NÃO ESTOU AQUI PARA FAZER APOLOGIA A UMA TEOCRACIA! Ambas situações são de gelar o coração.
Mas a minha indignação eu confesso ser maior com o dito “povo de Deus”, não gosto de generalizações de forma alguma. Eu creio e me relaciono com um Deus que lá no início se denominava como o Deus de Abrãao, Isaque e Jacó. Ou seja, um Deus individual, relacional, que só generaliza no amor, pois os tãos famosos versos de João 3:16 dizem que: “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho unigênito para que todo Aquele que Nele crer não pereça mas tenha a vida eterna”.
Ele amou o mundo e apenas Ele que amou e ama o mundo, tem o direito de julgar o mundo. Ele conhece os corações, cada desvio, cada reta sinuosa, cada luz, cada treva, cada peculiaridade.
Mas confesso que já não aguento mais de um lado a mídia colocando homossexuais como os únicos injustiçados, os únicos excluídos, as únicas vítimas de uma sociedade perversa e preconceituosa. E os que morrem no norte do país em conflitos de terra? E as crianças que se prostituem por um prato de comida nas beiras de estrada do nordeste? E as mulheres e seus filhos vítimas de violências cujo algoz é o próprio pai/provedor do lar?
Isso parece não dar ibope em novelas, programas e até mesmo no nosso Judiciário.
Também não aguento gente carregada de religiosidade e que auto-intitula boca de Deus e defensora Dele (como se o mesmo precisasse de advogados), tentando competir em marchas em nome Dele.
Acho que marcha digna não é aquela que lota ruas e praças ao som de trios e jargões dados aos brados e nesse ponto falo para ambos os grupos. Querem marchar? Marchem no dia-a-dia, com decência e decência é questão de caráter muito mais do que de preferência sexual. A vida se faz em caminhadas muito mais do que em marchas. O que ambos querem derrotar em suas marchas? Será que é a derrota do próximo Aquele que é amor almeja para a sua criação?
Infelizmente constata-se que é bem mais fácil reunir-se em volta do ódio comum ao invés do bem comum. Como também é bem mais fácil fazer o que é mal do que o que é bem.
Meus olhos tem visto muita coisa, meus ouvidos idem.
Confesso que algumas afirmações me enojam. Ouvi de um jovem pai a seguinte frase em tom de indignação: “não quero ver minha filha crescendo vendo dois homens ou duas mulheres andando de mãos dadas na rua e se beijando”.
Interessante que o mesmo não se importa que sua filha cresça veja vendo gente comendo lixo na rua, morrendo congelada no frio por causa do inverno, entre outras aberrações que para mim são bem "piores" do que dois seres humanos se relacionando.
Ouvi outra que também me deixou com o coração transpassado de dor:
“Um professor homossexual deveria ser removido da sala de aula”. Não conheço as circunstâncias de tal professor, mas pelo que acredito o mesmo dá aulas de uma disciplina lógica e não de sexualidade e não faz apologia a isso em suas aulas.
Mas é assim, o diferente deve ser eliminado, expurgado, Hitler propôs uma faxina étnica, hoje muitos parecem querer propor uma faxina sexual e até usam a Bíblia como muleta para tanto...falam que estamos como Sodoma e Gomorra. Alguém já reparou bem qual foi o pecado que levou à destruição de Sodoma e Gomorra? Transcrevo abaixo:
Eis que esta foi a iniqüidade de Sodoma, tua irmã: Soberba, fartura de pão, e abundância de ociosidade teve ela e suas filhas; mas nunca fortaleceu a mão do pobre e do necessitado.
Nada relacionado à sodomia e ao homossexualismo, não é mesmo? Impossível não lembrar nessa hora da frase do admirável John Stott: “quando vou à igreja tiro o chapéu e não a cabeça”
Engraçado é que muitos que estão empenhados em suas Jihads esquecem-se que dentro de seus próprios arraias há MUITOS homossexuais cuidando de suas criancinhas, com um discurso religioso na ponta da língua e uma repressão fora do comum dentro do coração. Já ouvi tantos casos assim...será que alguns que me leem também não?
Enfim, já escrevi demais, precisava fazer um desabafo, pois:
Não quero uma ditadura gay sobre minha vida e de meus futuros filhos (sim, sou hetero e pretendo casar, ter filhos e xiitas das causas gays, não me façam me sentir culpada ou errada ou muitos menos ter que pedir desculpas por me sentir assim e querer assim, não é questão de formatação, é questão de preferência e ponto!)
Não quero tampouco uma intolerância religiosa que pretende impedir direitos mais do que permissíveis.
Não vivi a época do divórcio em nosso país, não sei como a igreja se comportou nesta época. Sei que a bíblia fala em uma de suas passagens que Deus odeia o divórcio e etc.., mas o fato é que houve uma época em que isto foi instituído como algo juridicamente aceitável. Havia um fato, era preciso uma lei que resguardasse questões como pensão alimentícia, guarda de filhos e etc. E hoje, o tão famigerado divórcio de outrora é “prego batido e ponta virada” em nossa sociedade.
Hoje há um fato. Leis estão sendo discutidas, alguns avanços sendo feitos. A opinião de Deus é e sempre será importante, mas não devemos nos esquecer que vivemos em um estado laico e que equilíbrio e canja de galinha não fazem mal a ninguém.
Um abraço com amor em todos os grupos, prós e contras. Talvez alguns achem que estou em cima do muro, pedras talvez venham de todos os lados, sinceramente não me importo, são meras divagações de uma menina que aprendeu há um tempo que bom mesmo é falar do amor Dele pelo caminho...Ele não me enviou para consertar pessoas, mas para ama-las. Simples assim!
Vou ali comer uma canja de galinha (rs), lembrando-me da frase da célebre e querida companheira de cabeceira Clarice Lispector:
“Não se engane, só se consegue a simplicidade depois de muito trabalho”
Paz em todos e para com todos!
Roberta Lima
Concordo, Roberta.
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