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Por: Martha Medeiros
“Tão preocupadas em
existir para os outros, as pessoas estão perdendo um tempo valioso em
que poderiam estar vivendo, ou seja, namorando, indo à praia,
trabalhando, viajando, lendo, estudando”
Começam a pipocar alguns debates sobre as consequências de se passar
tanto tempo conectado à internet. Já se fala em “saturação social”,
inspirado pelo recente depoimento de um jornalista do “The New York
Times” que afirmou que sua produtividade no trabalho estava caindo por
causa do tempo consumido por Facebook, Twitter e agregados, e que se vê
hoje diante da escolha entre cortar seus passeios de bicicleta ou
“alguns desses hábitos digitais que estão me comendo vivo”.
Antropofagia virtual. O Brasil, pra variar, está atrasado (aqui, dois
terços dos usuários ainda atualizam seus perfis semanalmente), pois no
resto do mundo já começa a ser articulado um movimento de desaceleração
dessa tara por conexão: hotéis europeus prometem quartos sem wi-fi como
garantia de férias tranquilas, empresas americanas desenvolvem programas
de softwares que restringem o acesso a web, e na Ásia crescem os
centros de recuperação de viciados em internet. Tudo isso por uma
simples razão: existir é uma coisa, viver é outra.
Penso, logo existo. Descartes teria que reavaliar esse seu cogito, ergo
sum, pois as pessoas trocaram o verbo pensar por postar. Posto, logo
existo.
Tão preocupadas em existir para os outros, as pessoas estão perdendo um
tempo valioso em que poderiam estar vivendo, ou seja, namorando, indo à
praia, trabalhando, viajando, lendo, estudando, cercados não por
milhares de seguidores, mas por umas poucas dezenas de amigos. Isso não
pode ter se tornado tão obsoleto.
Claro que muitos usam as redes sociais como uma forma de aproximação, de
resgate e de compartilhamento — numa boa. Se a pessoa está no controle
do seu tempo e não troca o virtual pelo real, está fazendo bom uso da
ferramenta. Mas não tem sido a regra. Adolescentes deixam de ir a um
parque para ficarem trancafiados em seus quartos, numa solidão
disfarçada de socialização. Isso acontece dentro da minha casa também,
com minhas filhas, e não adianta me descabelar, elas são frutos da sua
época, os amigos se comunicam assim, e nem batendo com um gato morto na
cabeça delas para fazê-las entender que a vida está lá fora. Lá fora!!
Não me interessa que elas existam pra Tati, pra Rô, pro Cauê. Quero que
elas vivam.
O grau de envolvimento delas com a internet ainda é mediano e
controlado, mas tem sido agudo entre muitos jovens sem noção, que se
deixam fotografar portando armas, fazendo sexo, mostrando o resultado de
suas pichações, num exibicionismo triste, pobre, desvirtuado. São
garotos e garotas que não se sentem com a existência comprovada, e para
isso se valem de bizarrices na esperança de deixarem de ser “ninguém”
para se tornarem “alguém”, mesmo que alguém medíocre.
Casos avulsos, extremos, mas estão aí, ao nosso redor. Gente que não
percebe a diferença entre existir e viver. Não entendem que é preferível
viver, mesmo que discretamente, do que existir de mentirinha para
17.870 que não estão nem aí.
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