Digão
Já
disse algumas vezes aqui e repito: assumo completamente minha nerdice.
Sou fã de seriados e filmes de ficção científica em geral, e do universo
Star Trek em particular. Fiquei fã de algumas outras séries caras aos nerds, como Doctor Who, Game of Thrones, O Senhor dos Anéis e As Crônicas de Nárnia (esse último mais restrito aos nerds cristãos).
Mas,
apesar de toda a minha nerdice, muito útil hoje em dia (não preciso de
técnico para dar um jeito no computador!), nunca fui muito fã de filmes
de zumbis. Eu achava aquilo tudo muito exagerado. Exagerado até mesmo
para quem procura ver alguma base filosófica e teológica em Kirk, Spock e
Cia. (e pode procurar que há, e muita!). Um bando de mortos vivos,
andando pra lá e pra cá, atacando suas vítimas na base da mordida, nunca
me atraiu muito.
Isso até conhecer The walking dead. A
trama do seriado é pra lá de simples: se correr o zumbi pega, se ficar o
zumbi come. Fugindo desses zumbis – aliás, os mortos vivos nunca são
chamados assim na série – há um grupo de sobreviventes, que sofreu
terríveis reveses durante a trajetória. E a história começa quando um
policial, Rick, acorda do coma em um hospital devido a um tiro que leva
perseguindo um bandido. E acorda com os zumbis o procurando para ser o
almoço deles. Simples assim.
Ainda
bem que a TV, mesmo com todos os avanços tecnológicos, não transmite
cheiro. Deve ser horrível assistir a um programa sentindo aquele cheiro
de carne podre dos mortos vivos entrando pelo nariz.
Aliás,
em vez do bom perfume de Cristo (2Co 2.15), muita gente que enche a
boca com o nome do Senhor exala mesmo é a carniça da pecaminosidade
cultivada. Assim como em The walking dead,
as estruturas institucionais eclesiais andam, se orientam, se
alimentam. À distância, ao vê-las se movendo, podemos até mesmo achar
que há vida nelas, como nos zumbis. Mas estão mortas e putrefatas em sua
batalha diária para manter a máquina ensimesmada funcionando. E, ao
fazer isso, deixam para trás um rastro de mortos vivos, gente que se
torna a imagem e semelhança de outras pessoas, geralmente em posições de
poder, mas com ideais animalescos, mesquinhos e vis, ainda que com uma
fina camada de verniz do vício socialmente aceitável que é a
religiosidade estéril (Jd 11-13). Mas se esqueceram daquilo que Jacques
Ellul afirmou ao dizer que todo poder político, incluindo o poder
eclesiástico, é uma usurpação do poder de Deus e, portanto, uma
idolatria. Não se importam com aquilo que Karl Barth disse certa vez: [o falso profeta] sonha,
às vezes, que fala em nome de Deus, mas não fala a não ser em nome da
Igreja, da opinião pública, das pessoas respeitáveis e da sua pequena
pessoa. E fingem desconhecer aquilo que Jesus disse sobre eles: Muitos
me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome?
E em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitos
milagres? Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos
de mim, vós que praticais a iniqüidade (Mt 7.22, 23).
O
filósofo inglês John Locke afirmou que o homem nasce como um quadro em
branco que é preenchido com as experiências de vida. O atual quadro da
igreja evangélica brasileira aperfeiçoou o axioma lockiano, ao fazer da
experiência da tabula rasa um princípio de vida, gerando uma
multidão de gente vazia de valores bíblicos e de ética cristã. Geração
esta que cuida apenas de querer uma boa vida, estar nas paradas de
sucesso e até mesmo aparecer na novela global. Gente reprovável e
inimiga da Cruz (Fp 3.17-19), fazendo dela apenas comércio. Gente que
ainda está morta em seus pecados, vivendo uma vida religiosamente
irregenerada (Ef 2.1-3). Pessoas que, à semelhança das instituições, se
parecem vivas. Mas são apenas zumbis.
Visualizado em: http://www.genizahvirtual.com/2013/01/the-walking-dead-church.html#ixzz2Id6SphuZ
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